Apesar de ser um país de imigrantes, os Estados Unidos raramente acolheram com simpatia aqueles que ali procuraram o seu sonho. Em todas as épocas houve reações xenófobas e os portugueses também foram vítimas delas.
Quer no início do século XX, quer nos anos 1960, os portugueses que chegaram às costas americanas foram discriminados, enfrentaram dificuldades de integração, exerceram as profissões menos qualificadas e mantiveram-se discretos porque durante muitos anos eram "olhados de cima" pelos que já estavam instalados. Já nessa altura integravam o grupo dos PIGS - Portuguese, Italians, Greeks, Spanish -, os pobres que chegavam da Europa do sul.
Tudo isto explica, com a autoridade que lhe assiste, Onésimo Teotónio Almeida, professor catedrático da Universidade de Brown, em Providence, Rhode Island, uma das mais prestigiadas dos EUA. Com 50 anos de América, este ensaísta, escritor, filósofo, literato, fala-nos neste episódio da génese da emigração portuguesa para os Estados Unidos, das suas caraterísticas, virtudes e misérias. Do trabalho árduo à prosperidade, da iliteracia à ascensão social, da ignorância política ao envolvimento cívico, os luso-americanos foram traçando um caminho de que hoje se podem orgulhar.
Intelectual prestigiado, Onésimo Teotónio Almeida nunca exerceu qualquer cargo político, mas a ligação que manteve com a comunidade portuguesa ao longo dos anos fazem dele o observador mais qualificado para nos ajudar a perceber as idiossincrasias dos luso-americanos.
MAIS INFO
A emigração portuguesa para os EUA tem mais de um século, mas o envolvimento de portugueses na vida política e cívica americana é relativamente recente. Pelo menos, um envolvimento relevante que se traduza na ocupação de cargos eleitos e representativos das comunidades onde se inserem.
Ao contrário de outras comunidades imigradas nos EUA, os portugueses mantiveram-se afastados da vida política americana durante várias gerações, talvez por serem provenientes de um pais onde não havia quaisquer hábitos ou tradições democráticas. Ou talvez porque a sua condição económica e social não lhes permitisse dispersarem-se por atividades não ligadas diretamente ao sustento familiar.
Mas essa atitude começou a mudar recentemente e hoje existem nos EUA inúmeros portugueses - ou descendentes de portugueses - que se envolveram na vida política americana e desempenham cargos eleitorais relevantes ao nível local, estadual e federal.