Filme de Manoel de Oliveira que tem como pano de fundo a guerra colonial portuguesa e a epopeia de Portugal, uma epopeia construída em torno de grandes derrotas
Em África, nos finais da guerra colonial portuguesa, um grupo de soldados avança pelo mato. Falam da guerra e da missão histórica do homem em combate. Entre eles encontra-se o alferes Cabrita, licenciado em História, que vai percorrer outras memórias de guerra onde Portugal teve de enfrentar os ventos da derrota e da tragédia. De Viriato, e a resistência ao domínio romano até ao inevitável desastre africano, de que o alferes Cabrita será uma das últimas vítimas, Portugal enfrentou terríveis e devastadoras derrotas militares ao longo da sua História.
Estreado mundialmente no Festival de Cannes em 1990, onde Manoel de Oliveira foi igualmente homenageado, Non ou a Vã Glória de Mandar é, até à data, o filme mais ambicioso e de maior envergadura de toda a sua carreira. Trata-se de uma pessoal e fascinante viagem pela nossa memória histórica que começa e acaba na Guerra Colonial, passando por uma série de momentos igualmente desastrosos, sobretudo militares, como a resistência de Viriato aos romanos ou o delírio de Alcácer Quibir. Para além da sua aparente dimensão didáctica, Non ou a Vã Glória de Mandar é, acima de tudo, uma obra concebida e criada como uma épica ironia histórica, em que se glorifica e presta homenagem ao espírito de um povo através das suas maiores e mais trágicas derrotas e catástrofes.
Oliveira, mais uma vez, a reafirmar o seu gosto visionário num filme que recusa, ostensiva e frontalmente, a estrutura de espetáculo popular para se assumir da primeira à última imagem como uma obra enigmática, alegórica e metafórica sobre as desgraças que em Portugal foram, através de uma das mais alucinantes conjugações de memórias, mitologias e evocações coletivas alguma vez recriadas em cinema.
Um filme essencial sobre os "Non" da História de Portugal. "Non" é uma palavra retirada do sermão do Padre António Vieira que a chamava de "terrível palavra".