A mulher que inspirou alguns dos mais belos poemas da língua francesa
A história de um fantasma que assombra uma pintura.
Em Paris, no Museu d"Orsay, encontra-se uma obra monumental de Gustave Courbet, uma alegoria real, pintada em 1855, intitulada O Ateliê do Pintor. A pintura representa o artista diante da tela, rodeado dos seus modelos. À direita, os amigos, amantes da arte, incluindo o poeta Charles Baudelaire. Mas quem está por trás de Baudelaire? Com o tempo, uma figura apareceu ao lado dele. Uma silhueta levemente esborratada, como um fantasma. Trata-se de Jeanne Duval, a amante do poeta, que foi coberta com uma camada de tinta pelo próprio Courbet. Jeanne voltou à superfície, como se os pigmentos da pintura não pudessem suportar a ocultação, e parece assombrar a pintura. Ela é um ?arrependimento?. Este termo, usado na pintura para ilustrar tal fenómeno físico-químico, nunca terá tido tanto significado, dando conta dos problemas de identidade da sua biografia, bem como da sua misteriosa relação com o poeta.
Quem foi Jeanne Duval e porque foi apagada? Jeanne era uma mulher mestiça que vivia em Paris. Não sabemos as suas origens, nem o seu nome verdadeiro, nem a sua data de nascimento, nem a da sua morte. Cegos pelos preconceitos racistas dos séculos XIX e XX, a maioria dos críticos literários acusou Jeanne de todas as perversões, de ser inculta e analfabeta, ou simplesmente a ignoraram ou esconderam. O documentário de Régine Abadia pretende reabilitar a mulher que inspirou alguns dos mais belos poemas da língua francesa e que foi tão maltratada pelos biógrafos do poeta.