17 Ago 2022
Documentário de Thomas Behrens sobre o neurocirurgião e cientista português António Egas Moniz, Prémio Nobel da Medicina
A história da leucotomia pré-frontal, uma intervenção cerebral criada pelo médico neurocirurgião e cientista português António Egas Moniz, Prémio Nobel da Medicina
A partir do caso concreto de uma leucotomia pré-frontal realizada em meados da década de 1960, tendo tido por paciente Teresa de Barros Caetano, mulher de Marcello Caetano, o último chefe do governo do Estado Novo, o documentário de Thomas Behrens cruza este episódio particular com a história daquele método terapêutico de intervenção cerebral, criado na expetativa de curar certas neuropatias mais agudas (como a depressão severa) pelo médico neurocirurgião e cientista português António Egas Moniz (1874-1955), galardoado com o Prémio Nobel da Medicina em 1949.
Através de conversas com dois dos filhos do casal Caetano, Ana Maria Caetano e Miguel Caetano, revela-se no documentário que a mãe sofria de melancolia, depressão e ansiedade - uma enfermidade com sintomas mais do foro neurótico do que do psicótico. Apesar das reservas que então já se colocavam à leucotomia pré-frontal (que também deu origem à conhecida lobotomia), os médicos concluíram que esse seria o único método com esperanças de cura para Teresa Caetano, tendo a decisão de operar sido tomada pelo marido, em diálogo com os filhos, e sem que a própria paciente fosse consultada para obter o seu consentimento.
O documentário conta a forma como Egas Moniz descobriu e levou a cabo, a partir de 1935, a prática da leucotomia pré-frontal, e conta com o testemunho de um dos membros da sua equipa de colaboradores no Hospital Júlio de Matos, a psicóloga Maria de Lourdes Bettencourt, que tinha 100 anos quando prestou o depoimento. São também entrevistados um neurocirurgião e um psicanalista, que abordam de forma crítica a técnica da leucotomia pré-frontal (uma intervenção cirúrgica em que são seccionadas as vias que ligam os lobos frontais do cérebro ao tálamo e outras vias frontais associadas), explicando as razões pelas quais o processo foi considerado ultrapassado, tendo há muito deixado de se praticar em Portugal.
Foram muito limitados os resultados da intervenção cirúrgica a que se submeteu Teresa Caetano, que acabaria por falecer escassos anos depois, quando o marido já chefiava o governo da ditadura. Se a operação ao cérebro contribuiu ou não para esse desfecho, é algo que nunca foi apurado.
No final do documentário, durante uma das suas célebres "Conversas em Família", transmitidas através da televisão, o sucessor de António de Oliveira Salazar comunica aos Portugueses, de forma dramática, que acabou de perder a mulher...