02 Jul 2019
Realizado por Pedro Neves, Tarrafal é uma viagem intensa pelo passado e pelo futuro do Bairro S. João de Deus, um documento vivo da história recente da cidade do Porto
Um dia, quase tudo se transformou num monte de escombros e mato. Restaram fantasmas que vagueiam entre os campos, as ruínas e o nevoeiro. Alguns desses fantasmas estão vivos. São gente que ficou, gente que volta, gente que deambula pelas memórias difíceis daquele que foi o mais maldito bairro da cidade. Só que este Tarrafal, o nome do campo de morte lenta da ditadura salazarista, não fica em Cabo Verde, mas sim em Portugal.
Uma viagem intensa pelo passado e pelo futuro do Bairro S. João de Deus, Tarrafal é um documento vivo da história recente da cidade do Porto.
O realizador, Pedro Neves, procura introduzir-se na vida das pessoas que habitam no bairro para viver com elas as suas esperanças e frustrações. Vê-se um rasto de ruínas que convoca as memórias sobre a identidade do bairro, mesmo que a sua decadência social e humana tenha sido demasiado devastadora. Nesse aspeto, há um ponto comum das conversas, das músicas e mesmo das práticas que são retratadas: a heroína, essa droga destruidora de toda a estrutura coletiva.
O filme torna-se envolvente pelas suas técnicas de aproximação às pessoas, deixando-as fazer parte da história: é um filme também delas, do seu imaginário. Há, nesse gesto, um sopro de vida, uma vontade de descobrir um futuro, porque estas pessoas não vão desaparecer, nem mesmo estes espaços urbanos onde é difícil encontrar esse futuro.
(Fonte: Daniel Ribas)