Um dos mais célebres e marcantes filmes do pós-25 de Abril que revelou Alberto Seixas Santos e impôs um estilo muito particular de olhar o Cinema e a História
Cenas da vida doméstica de uma família portuguesa da média burguesia, alternadas com atualidades sobre a ascensão, glória e queda do salazarismo, onde se constrói um paralelismo entre a figura do chefe de família tradicional e o ditador.
Os conflitos e as frustrações das filhas, que representam duas gerações, são apresentadas de forma didática nas suas relações com os pais, a avó e a criada. Tudo isto articulado com quadros musicais, onde no limite a história de uma família e a História de um país se confrontam, complementam e confundem.
"Brandos Costumes" é possivelmente um dos filmes mais célebres e comentados do pós-25 de Abril. Primeiro porque acabou de ser rodado em 1974 e depois porque constituía, de certa forma, uma autêntica premonição dos acontecimentos desse ano, que mudaram irreversivelmente tudo aquilo que o filme refletia e analisava.
Trata-se da obra de estreia de Alberto Seixas Santos na realização, que revelou um cineasta sui generis na forma como criou uma estrutura narrativa e uma reflexão política abrangente, introspetiva e até pedagógica, a partir de elementos distintos como as atualidades cinematográficas, exertos de filmes como "Chaimite" ou "A Revolução de Maio", a encenação de uma situação dramática precisa, no caso a trajetória e as relações de uma família burguesa e, por fim, a construção de quadros musicais em tom de paródia revisteira.
Nesta dimensão, "Brandos Costumes" assume-se ainda como uma reflexão sobre o próprio cinema e os seus mecanismos.