"All right Mr. De Mille, I´m ready for my close-up?. No rosto de Gloria Swanson, em Sunset Boulevard, é toda a tradição ocidental - que situa no rosto a intercepção entre a imagem e a identidade - que se despede. O carácter problemático dessa intercepção, na contemporaneidade, percorre o trabalho de Adriana Molder. A segurança com que a imagem parecia fixar o sujeito, no retrato, alterou-se com a reprodutibilidade técnica associada à fotografia e sobretudo ao cinema. A proliferação de imagens criou como que uma usura do sentido. Se uma parte considerável da arte contemporânea optou por abandonar o retrato, Molder segue um caminho diverso. A técnica particular dos seus desenhos a tinta da china sobre papel de esquiço como que interioriza e reverte o processo de reprodutibilidade técnica, reencontrando nos jogos entre luz e sombra, transparências e texturas, uma espécie de aura nostálgica para o rosto. Tal permite-lhe atender às múltiplas referências imagéticas que nos rodeiam ? stars, desportistas, criminosos ? e reencontrar aí a possibilidade contemporânea de um retrato ao mesmo tempo obsessivo, ficcional e verosímil, vazio e intensivo. É este percurso, onde se conjuga a imagem e a identidade, o desenho e o retrato, que este documentário acompanha, situando o trabalho de Adriana Molder entre Rostos e Outras Personagens.