`Sister, if you can´t paint in New York, you´d better give up ...`. A paráfrase de um conhecido filme do início dos anos 50 sintetiza o documentário sobre Ana Cardoso, o qual se desenrola entre a circulação da artista portuguesa no meio nova-iorquino ? a sua formação no Hunter College, a convivência no meio artístico local, as galerias, as inaugurações ? e a possibilidade de continuar a pintar no início do século XXI. De facto, a pintura ocupa o lugar central no trabalho de Ana Cardoso, a qual reformula a dupla herança do modernismo e da arte conceptual. O modernismo propunha uma prática autorreflexiva que visava estabelecer os elementos específicos do pictórico, a sua essência, excluindo tudo o resto. A arte conceptual expandiu a postura autorreflexiva conferindo-lhe um sentido genérico ao fazer coincidir a arte com a ideia de arte. Ana Cardoso retorna à pintura através de uma prática pós-conceptual que inverte o modernismo. A artista desenvolve uma reflexão pictórica sobre a própria pintura, estabelecendo não a sua essência especifica mas a sua potencialidade genérica. Estamos perante uma pintura em `campo expandido´ com uma forte componente objetiva que explora o paradoxo da tela ? ao mesmo tempo essência do pictórico e objecto genérico - através de materiais não tradicionais, como tecidos e plásticos, ou retirando a armação e deixando que as telas flutuem como bandeiras. Daí que, para esta portuguesa em Nova Iorque, a pintura continue a ser um lugar de possibilidades e o espaço de uma reflexão que, cruzando uma pluralidade de referências, procura pensar a história das imagens ou seja o modo como vemos o mundo.