?Là ci dare la mano, La mi dirai di sì. Vedi, non è lontano, Partiamo, ben mio, da qui?. A evocação do Don Giovanni, de Mozart, recorda-nos a formação em música erudita com que Vasco Araújo complementou os estudos artísticos, que efetuou na FBAUL e na Maumaus, e a importância que o universo operático ocupa em alguns dos seus trabalhos. Algo soa através das suas obras: não só questões subjetivas, de autorrepresentação, mas também questões sociais, convenções, estereótipos. A reflexão em torno da identidade desempenha, assim, um papel central, desenvolvendo-se entre a pessoa e a personagem. A noção de persona ? etimologicamente soar através de - remete-nos para o universo do teatro, enquanto modelo para um questionamento de si próprio e da realidade, mas igualmente para um classicismo que povoa as suas obras de referências, formais e de conteúdo, à ópera, às tragédias clássicas, aos clássicos da literatura. O documentário A vida é uma super encenação atende a este classicismo e ao modo como ele se cruza com questões contemporâneas ? problemáticas de género, sexuais, pós-coloniais ? a fim de lhes conferir o carácter universal de uma reflexão atemporal sobre temas como a felicidade, o amor e a (im)perfeição.