?A arte não é um reflexo da realidade mas a realidade do reflexo? são palavras de um filme de Godard que, a dado momento, alguém cita no documentário Trabalhos do Olhar. Tal constitui, de certa forma, uma síntese da obra de Filipa César, artista formada na FBAUP, onde aprendeu que não queria ser pintora, e que cedo se instala em Berlim, que qualifica como cidade em processo. Grande parte da sua pesquisa centra-se na relação entre documentário e ficção, explorando as fissuras e os limiares entre ambas. Daí a importância que atribui ao cinema, num processo quase meta-cinematográfico onde a montagem ocupa um lugar fundamental. É através do cinema que aborda a relação entre observador e observado, por vezes atendendo à dimensão comportamental no espaço público, por vezes questionando o ecrã-fronteira. A imagem em movimento cruza-se com a reflexão sobre a construção da memória individual e colectiva, sobre o modo como passado e o presente atuam um sobre o outro, tanto a nível individual como colectivo, assumindo, nas suas implicações sociológicas e antropológicas, uma dimensão política