?queria de ti um país de bondade e de bruma queria de ti o mar de uma rosa de espuma?. As palavras são de Cesariny mas podem aplicar-se a várias obras de João Pedro Vale, onde o mar é convocado através de referências que vão desde, uma certa ideia de portugalidade, passando pelos castelos de areia da infância até obras mais recentes de revisitação homoerótica. João Pedro Vale tem vindo a construir, há mais de uma década, um percurso coerente em torno da problemática da identidade nas suas configurações pessoais e colectivas, sexuais e nacionais, atendendo ainda ao universo da infância como condicionador de valores e condutas. Dando voz ao artista e a especialistas, o documentário Não Há Fim para o Caminho percorre alguns dos seus trabalhos fundamentais, onde a identidade surge como uma configuração do mito, ou seja, como construção colectiva de um imaginário. O artista apropria-se dos lugares comuns que daqui resultam, joga com eles e desconstrói-os criticamente. Independentemente de recorrer ao vídeo, à instalação ou ao objecto, a escultura, que constituiu a sua formação de base e para cuja renovação muito contribuiu no contexto português, desempenha um papel fundamental. O recurso a materiais pobres e acessíveis, mas culturalmente carregados, traduz a opção metodológica pela prática de sucessivos cruzamentos ? nomeadamente entre o erudito e o popular ? conferindo polissemia às suas obras.