Uma série documental da autoria do jornalista Jacinto Godinho que procura resgatar o passado obscuro da polícia política do Estado Novo, procurando conhecer os factos para além das lendas
No dia 28 de Maio de 1926 ocorreu um golpe militar liderado por Gomes da Costa e que instaurou em Portugal uma ditadura de 48 anos. Nesse mesmo ano de 1926 foi criada a primeira polícia política destinada a proteger o regime (que ficou conhecido como a Situação) que governava Portugal. Um dos principais legados do autoritarismo foi sem dúvida a cultura do medo, o clima de suspeita, a desconfiança do outro, alimentados durante 48 anos pela polícia politica e ainda com fortes resquícios na cultura portuguesa.
Em Portugal usa-se o nome de PIDE para referir a polícia política da Ditadura e do Estado Novo. Mas PIDE é o nome mítico e lendário pelo qual ficaram conhecidas todas as polícias que desde 1926 se ocuparam da repressão política em Portugal. Quando a PIDE (Policia Internacional de Defesa do Estado) foi criada em 1945, Salazar procedeu apenas a uma mudança cosmética de nome procurando dar uma imagem para o exterior de abertura do regime na sequência das derrotas dos fascismos no fim da Segunda Guerra Mundial. A PIDE continuou a funcionar na mesma sede, na Rua António Maria Cardoso, com os mesmos agentes e directores, onde já funcionava a polícia política desde 1926. Mudou várias vezes de nome. Foi Polícia de Informações de Lisboa (PIL); Polícia de Informações do Porto (PIP); Polícia de Informações do Ministério do Interior (PIMI); Policia Internacional Portuguesa (PI); Secção de Vigilância Politica e Social da PSP; Policia de Defesa Politica e Social (PDPS) e depois foi a PVDE até 1945. Os diretores que em 1945 ficaram encarregues de dirigir a nova instituição chamada PIDE, formada em 22 de Outubro 1945, já tinham fundado não só a PVDE, em Setembro 1933, mas também a instituição antecessora, a Policia Internacional Portuguesa em 1931. Estes homens iniciaram um reinado de poder antes mesmo do próprio Salazar. Trata-se de gente com vidas quase desconhecidas e cujos nomes hoje já praticamente ninguém conhece no país.
A série Antes da PIDE resulta de uma investigação sobre a polícia politica nos primeiros 19 anos do regime da ditadura militar e do Estado Novo procurando responder à questão: Que papel desempenharam então as polícias politicas na afirmação da Ditadura Militar e no autoritarismo salazarista?
Trata-se de um período relativamente pouco conhecido da maioria dos portugueses. Quem foram os fundadores da Policia Politica da Ditadura? Que forças da Oposição perseguiram e como é que estas organizaram a resistência?
Os quatro primeiros episódios são sobre aspetos pouco estudados desse período decisivo do regime da Ditadura Militar no qual foi formada a primeira polícia política que funcionou entre 1926 e 1931. Nesse período de cinco anos de 1926 a 1931 aconteceram as principais revoltas da oposição republicana militar e civil, vulgarmente chamada reviralhista; deu-se a génese do salazarismo e a definição das principais facções militares que lutaram pelo poder dentro da chamada Situação e que, saindo vencedoras, sustentariam depois o regime autoritário do Estado Novo. Este é precisamente o período que antecede o aparecimento da duradoura dupla Agostinho Lourenço e José Ernesto Catela no comando da repressão política em Portugal.
No quinto episódio regressa-se à biografia de Agostinho Lourenço e relata-se o conturbado período que se segue à instauração da Republica em Espanha e à revolta da Madeira em 1931.
Nesse ano o regime acaba com a Policia de informações e aposta na Policia internacional para a qual nomeia Agostinho Lourenço que inicia então um longo período de 25 anos como homem forte das secretas portuguesas. Nesse conturbado período o regime militar nomeia Oliveira Salazar que faz uma transição do poder militar para o civil. Luta-se intensamente no interior do regime e Portugal tem até 1933 duas polícias políticas.
Os últimos quatro episódios centram-se sobre o período do Estado Novo e da PVDE (Policia de Vigilância e Defesa do Estado) que resulta da fusão das duas anteriores polícias políticas do regime.
Nesse período a PVDE consolida-se como máquina repressiva. Acaba com os últimos resíduos do reviralhismo, consegue também desmantelar a forte oposição anarco-sindicalista e participar no desmantelamento do movimento Nacional-Sindicalista de Rolão Preto. Inauguram-se o presídio político de São João Baptista e o campo de concentração do Tarrafal em Cabo Verde. A partir de 1934 o Partido Comunista fica praticamente isolado na oposição ao regime de Salazar. Como lidou a polícia política com a mais bem organizada das resistências ao salazarismo? Como perseguiu e prendeu os líderes históricos como Bento Gonçalves, Pavel e Álvaro Cunhal?