Ep. 1
O Regime da ditadura, estabeleceu novas regras, mas o povo não baixou os braços!
"Quando os Lobos Uivam", uma série baseada no romance homónimo de Aquilino Ribeiro, adaptada por Francisco Moita Flores. Retrata a saga dos beirões em defesa dos terrenos baldios durante a ditadura, nos finais dos anos 40 e início dos anos 50.
Anos 50. Beira Alta. Nas fráguas da serra dos Milhafres existe o lugar de Rochambana. Um casebre ladeado por menos de dois hectares de terra onde o velho Teotónio Louvadeus vive com a terra, e com a serra, velho lobo eremita que esgravata dali o alimento e o engenho para conviver em paz com a sua solidão.
Teotónio Louvadeus tem a força do granito e por entre as gentes daqueles lugares perdidos, e escondidos nas lapas da serrania, corre à boca pequena que tem pacto com o Diabo: fala com os lobos que ameaçam outros lugares e rebanhos, mas que vêm comer à mão do velho. Não se importa com os boatos. Apenas teme a venatória. A guarda sabe que não tem igual caçador furtivo nas redondezas.
Há mais de 10 anos que o filho Manuel partiu para o Brasil. Em Arcabuzais deixou a mulher, Filomena, e dois filhos Jorgina e Jaime com a jura de regressar rico, pelo menos remediado, com dinheiro suficiente para matar de vez a fome, essa doença ruim que pairava como ameaça sobre a multidão de humildes que nascia e vivia na serra de Milhafres.
O velho Teotónio sonhava com o dia em que podia abraçar o filho, e como não rezava a Deus, rogava à serra, que a serra tinha a generosidade das mães, que lho enviasse de volta. Talvez fosse por suplicar tanto que Manuel Louvadeus regressou. Não trazia fortuna, é certo, mas regressava menos pobre do que no dia em que deixara Arcabuzais.