O percurso histórico dos dois vizinhos ibéricos, que só após os seus desaparecimentos foi possível a Espanha e a Portugal conhecer a liberdade
António de Oliveira Salazar, o ditador português, e Francisco Franco, o ditador espanhol, tiveram vidas paralelas, apoiando-se reciprocamente à frente de regimes que, ao longo de décadas, coexistiram no tempo e só se extinguiram após o desaparecimento de ambos. Essa ligação foi tão forte que se pode mesmo dizer que nenhum deles sobreviveria sem o outro.
Assustado com os efeitos que a República espanhola pudesse ter sobre o seu regime, Salazar deu a Franco uma preciosa ajuda durante a Guerra Civil espanhola (1936-39), furando o bloqueio internacional ao fornecimento de armas e garantindo dispositivos de propaganda ao falangismo. Mais tarde, foi a Espanha franquista que protegeu Portugal contra as influências externas que pudessem prejudicar o salazarismo, atrasando todo o processo de abertura democrática e de integração europeia da Península Ibérica.
A colaboração entre eles foi ainda fundamental para deixar a Península de fora da II Guerra Mundial, apesar da aliança portuguesa com a Inglaterra e das aproximações de Franco a Hitler. Ambos os ditadores ibéricos secundarizaram divergências para defender o essencial: a sua conservação no poder. E conseguiram-no: só a morte ou a invalidez os afastaram da condução dos destinos dos seus países.
Franco e Salazar - Irmãos Ibéricos é um documentário que segue o percurso histórico dos dois vizinhos ibéricos, sem cujo desaparecimento não foi possível a Espanha e a Portugal conhecer a liberdade.
Este documentário é baseado numa desenvolvida pesquisa efectuada em diversos arquivos de filmes, tendo sido utilizadas imagens de época oriundas de Portugal, de Espanha, de França, da Grã-Bretanha, da Alemanha, dos Estados Unidos e da ex-União Soviética.
Recorreu-se também a depoimentos de pessoas contemporâneas dos dois ditadores, como Santiago Carrillo, ex-secretário-geral do Partido Comunista Espanhol, o diplomata espanhol Fernando Morán, o dirigente socialista espanhol Raúl Morodo, o sobrinho de Franco (e filho do embaixador espanhol em Lisboa nos anos 40) Nicolás Franco Povil e o oposicionista português Francisco Lyon de Castro, assim como a ex-colaboradores de ambos, como Manuel Fraga Iribarne, ministro da Informação do governo de Franco, e Adriano Moreira, ministro do Ultramar de Salazar.
Foram ainda entrevistados diversos historiadores, entre eles o inglês Paul Preston, considerado o mais importante biógrafo de Franco na actualidade, assim como os portugueses António José Telo e Irene Pimentel e os espanhóis Juan Carlos Giménez Redondo, Hipólito de la Torre Gómez e Alberto Pena Rodríguez.