OS CAVALEIROS DO MAR

Vamos continuar a contar-lhe o quotidiano do "George Washington"
Os "cães amarelos" gesticulam freneticamente. Tal como os sinais que fazem, a própria cor da farda que envergam tem um significado. No caos organizado que é a pista de um porta aviões, o amarelo indica os tripulantes responsáveis pelo movimento dos aviões. Os vermelhos são os bombeiros, os verdes os operadores da catapulta e os violeta os encarregados do abastecimento de combustível.
Vista do ar, na imensidão dos oceanos, a pista surge assim como uma pequena ilha pontilhada por silhuetas multicolores, menos de um quilometro de humanidade na forma da mais temível máquina da guerra naval moderna. Para os pilotos dos aviões que aí vão aterrar pela primeira vez, os gestos dos "amarelos" são assim o apoio visível, a âncora para uma aterragem segura a bordo do maior navio de guerra do mundo.
A pista é o centro nevrálgico do "George Washington", e é aí que quatro pilotos vão fazer a sua primeira aterragem num porta-aviões. Arnaud, o seu instrutor, está ao lado do comandante, na asa da ponte de comando. Por brincadeira, os pilotos chamam "poiso dos abutres" a esse local de observação privilegiado. Mas as aterragens são também todas seguidas em directo via circuito interno de televisão e também gravadas para posterior estudo. Para além de fatal, uma distracção pode ser suficiente para parar esta gigantesca máquina de guerra, que graças aos seus propulsores nucleares tem uma autonomia de navegação teórica de dezoito anos.
O "George Washington" é também uma autêntica cidade flutuante onde o sol não entra. Apesar de ser o maior navio de guerra do mundo, o espaço e os ambientes acabam por ser confinados para os seus seis mil tripulantes, que cumprem missões de cerca de ano e meio. A privacidade é quase interdita e, apesar da instrução recebida, há pilotos e marinheiros que não estão preparados para viver uma vida a bordo. Um hospital com toda a tecnologia de ponta trata as maleitas físicas mas também fornece ajuda psicológica aos que têm dificuldades de adaptação.
No dia a dia, os mínimos espaços concebidos para utilização militar acabam por ser aproveitados como espaços de lazer. Há quem faça corrida de manutenção nos dez quilometros de corredores e quando os aviões são arrumados o gigantesco hangar coberto que é o segundo deque do navio tranforma-se num verdadeiro pavilhão polidesportivo onde também se consegue jogar simultaneamente voleibol e futebol de cinco.
Um dos locais mais concorridos do navio é, de resto, o supermercado de bordo. Podem-se ali comprar quase todos os produtos típicos da sociedade de consumo norte-americana. E claro que há (muitas) máquinas automáticas de coca-cola. Outra tentativa de ligação com o mundo exterior surge na forma de canal de televisão. O quotidiano do maior navio de guerra do mundo tem matéria suficiente para que até exista todos os dias um telejornal com notícias e um apresentador próprio, que apesar de ser um cabo (e de bigode !) é a grande estrela de bordo.
Ficha Técnica
- Título Original
- II
- Ano
- 2002