Uma delirante e espantosa sátira sobre a perversão da ética na televisão comercial, na visão de Sidney Lumet da obra de Chayefsky, que conquistou 4 Oscares e se tornou num filme inquietantemente profético
Howard Beale, o principal jornalista e apresentador da cadeia norte-americana de televisão UBS é despedido devido à queda de audiências. Howard não se conforma com esta forma de tratamento e, completamente fora de si, anuncia em direto que se vai suicidar em frente das câmaras. Max Schumacher, chefe do departamento informativo e velho amigo de Howard, não quer manter o desesperado jornalista em emissão, que vai desenvolvendo as suas alucinadas e estranhamente entusiasmantes reflexões. Do dia para a noite, Howard, torna-se num fenómeno de audiências que Dianna Christensen, a nova e ambiciosa diretora de programas, explora de forma sensacionalista, apesar da oposição de Max. Howard continua a arengar de forma demencial contra as injustiças do Mundo e a alienação da televisão, exortando os espetadores a fechar os televisores. Após, uma lavagem cerebral por um dos diretores da cadeia televisiva que convence Howard a esquecer o discurso ideológico e a render-se ao poder do dólar, este torna-se num impiedoso crítico económico e as suas audiências voltam a cair, mas desta vez, de forma, literalmente, fatal.
´Escândalo na TV´ é uma das mais notáveis realizações de Sidney Lumet, que ajudou a criar a sua reputação de frio, cínico e ativo crítico da realidade sócio-cultural e política da América ao longo das décadas de 70 e 80. Curiosamente, esta magnífica adaptação ao cinema da obra de Paddy Chayefsky, que o próprio assinou e lhe valeu um Oscar da Academia de Hollywood, acabaria em 1976 por criar acesa polémica sobre os efeitos perversos da televisão na sociedade da altura, bem como, sobre a ética televisiva. Na verdade, hoje, ´Escândalo na TV´, é considerado como um filme profético e inesperadamente atual, uma vez que ao criar uma das mais espantosas, exatas e incisivas visões dos bastidores de uma grande cadeia de televisão comercial, em tom de sátira excessiva, delirante e cínica, tinha desenhado premonitoriamente a trajetória da baixa qualidade e dos golpes comerciais da televisão dos nossos dias, com a glorificação de figuras como Jerry Springer ou Howard Stern. Um filme a vários títulos notável, servido por um fabuloso elenco, nomeadamente Faye Dunaway, William Holden e Peter Finch.