Programas tv

O Conde d´Abranhos

O deputado Alípio

Géneros

  • Séries Nacionais

Informação Adicional

O deputado Alípio

Episódio 6 de 13 Duração: 50 min

Entrou no Parlamento disposto a fuzilar aliados e adversários. Fuzilar era o termo correcto embora não se tratasse de matar ninguém. Queria fuzilá-los com a eloquência. Estudava retórica com afinco, conhecia Demóstenes e Catilina, na filosofia estava com S.Tomás de Aquino mas sobretudo estava contra os bárbaros. Na sua casa era proibido falar de Hegel ou de Proudhon enquanto sobre literatura quem decidia era D.Laura. O que ela autorizasse do seu terrível index era o que se lia.

Porém, Alípio precisou de pôr em dia alguns negócios terrenos. O primeiro foi acabar com a banca no escritório de Vaz Correia. O antigo patrão e o homem que lhe abrira as portas da política e do casamento, ainda lhe disse que não vinha a calhar, que era uma altura de muito trabalho, que se ele pudesse conciliar durantes mais dois meses a actividade de deputado com a actividade no escritório lhe dava imenso jeito. Ainda por cima, como deputado Alípio não tinha grande coisa para fazer.

O que o desgraçado do Vaz Correia disse! Quem fala assim da classe política, da mais nobre arte que qualquer país conhece, quem desprestigia desta maneira o trabalho de um deputado da Nação não é digno de ser amigo, pior, não é digno de ter amigos.
Vaz Correia ainda tentou ripostar. Explicar que não tinha intenção de ofender. De nada valeu. Alípio não aceitava tais desculpas que não o agrediam a ele, mas a Pátria. Por isso, que arranjasse outro bacharel e que não chateasse.

Resolvido o caso profissional, outro problema de não menor importância precisava dos seus cuidados. A Alice, a mulher do correeiro, estava irremediávelmente prenha. Era grave, mas mais grave é que o palerma do marido não se convenceu que era o pai da criança. É que dois meses de atraso e convencê-lo, tal como tinha sugerido Alípio, que a criança era de sete meses ainda vá que não vá. Mas o homem chegou fraquíssimo do hospital. Comida de dieta e a ressaca das bexigas arrumaram-no durante meses e quando Alice foi obrigada a dizer que estava grávida pois a barriga não parava de encher, o correeiro revelou a sua alma plebeia: Rua!

E a pobre desgraçada viu-se sem amparo. Foi então que se lembrou de Alípio mas este nunca







estava e as necessidades da vida fizeram com que Alice entrasse na vida. Quando nasceu a criança era desgraçadamente mulher da rua, ainda por cima sem estar matriculada. Era demais para o deputado. Mandou Zagalo dizer que não conhecia mulheres de vida fácil. Se tinha um filho que nele se inspirasse para ganhar juízo em vez de enveredar pelo caminho do pecado. Mais: que não tornasse a bater-lhe á porta que da próxima vez, não lhe mandava o secretário. Mandava-lhe os cães.

Ficha Técnica

Título Original
O Conde d´Abranhos
Intérpretes
Paulo Matos, Sofia Alves, NIcolau Breyner, Rui Luis, Helena Coelho, Henrique Viana, entre outros
Realização
António Moura Mattos
Produção
Antinomia Prods.
Autoria
Francisco Moita Flores, baseado na obra de Eça de Queiroz
Música
Paco Bandeira
Ano
2000
Duração
50 minutos