Hoje tenho 10 anos. Como olharei para estes dias quando tiver 30?
Por estes dias, em 2020, vivemos tempos singulares. As ruas de todo o Mundo fecharam-se em si mesmas e empurraram-nos para dentro das casas. Os abraços, as corridas, os rasgões nas calças e os jogos de futebol à chuva, ficam agora suspensos. Descobrimos novos recantos entre quatro paredes, dotes culinários que não imaginávamos ter, apercebemo-nos que quem cuida de nós, afinal, pode ficar dias a fio ao nosso lado e que até é bastante divertido brincar com o irmão mais velho. Descobrimos acima de tudo que aquilo que alimenta todas as nossas brincadeiras continua nas nossas mãos: a imaginação.
Hoje tenho 10 anos. Como olharei para estes dias quando tiver 30?
Que importância vou dar nessa altura aos abraços, às corridas, aos rasgões nas calças e aos jogos de futebol à chuva?
É vital documentar estes dias novos, fixar o que descobrimos em nós e nos outros. Inscrever na memória colectiva o que mudou nas cidades, nas pessoas e nas sociedades, para que um dia mais tarde, seja possível olhar para este período tão particular na história recente e perceber até que ponto este regresso forçado ao recolhimento nos tornou ou não diferentes enquanto Humanidade.