Chegámos até aqui, chegamos sempre a um lugar porque estamos sempre num aqui e num agora que revela a nossa situação no mundo e a nossa relação com os outros.Vivemos num sistema composto de rotinas, governos, culturas, educação, linguagens e línguas.Uns são fascinados pelo sistema, outros revoltam-se contra ele e outros vivem na ambivalência de serem seguidores ou objetores ou de serem ativistas ou pacifistas. De todo modo isto dá-nos a todos os mesmos adversários, os mesmos obstáculos, os mesmos desejos e, dependendo do ângulo, às vezes somos um, outras vezes somos a multidão e recebemos o mundo todo em nós, porque somos todos os dias convocados a fazer uma leitura do todo e das partes, para chegarmos ao dia seguinte.O que tem este prólogo a ver com Karl Valentin? A resposta é complicada mas autêntica. Karl Valentin destaca-se nos anos 20/30, como autor e ator para dizer com a persona Valentin como vai a sua casa, o seu bairro, a sua cidade, o seu país, o mundo, o sistema em colapso ou a vitalidade das horas.A persona Valentin não nasceu, não tem história, pode encarnar qualquer personagem, qualquer contexto social. Existe porque sim, sempre e apenas na situação que provoca. Por isso não se pode ser Valentin sem se ser Valentin.