Foi o maior incêndio dos últimos anos e o mais dramático deste verão. Consumiu quase um quarto do Parque Natural da Serra da Estrela, reduziu a cinza os haveres de homens e mulheres, que trabalham de sol-a-sol, deixando um rasto negro no património da humanidade.
Apesar do incêndio ter mobilizado um impressionante número de homens e de meios, alguns autarcas, antigos guardas da natureza, ex-bombeiros e atuais comandantes, estão convictos de que o incêndio poderia ter sido extinto, no dia da ignição ou no dia seguinte, sem atingir o Vale Glaciar, como nunca tinha acontecido.
Durante as operações, os bombeiros do distrito da Guarda discordaram da estratégia de combate, entrando em conflito direto com o Comando Operacional de Castelo Branco e com o Comando Nacional. Apenas dois comandantes aceitaram falar com o Linha da Frente, vestindo a farda, mas sem mostrarem o rosto, por temerem represálias. A Proteção Civil e o Governo declinaram os convites da RTP.
No terreno, até agora nada foi feito e tudo está por pagar. As ajudas ainda não chegaram e os bombeiros desesperam por apoio que compense o gasto excessivo em combustível e em refeições.
Mas no Comando Distrital de Operações, em Castelo Branco, já houve mudanças.
O ex-comandante, na manhã de 7 de agosto, dia da chegada das chamas ao Vale Glaciar e da etapa da Volta a Portugal em Bicicleta, até à Torre da Serra da Estrela, deixou o cargo.
Amândio Nunes, militante socialista, é agora coordenador da Proteção Civil, na autarquia de Castelo Branco, liderada pelo PS.
"Ele Andou Por Onde Quis" é uma reportagem de Rosa Veloso, com imagem de Fábio Siquenique e Marquês de Almeida e edição de Vanessa Brízido.