Será a capacidade de concretizar um sonho capaz de vencer todos os obstáculos encontrados?
Maria é aluna de teatro, quer ser actriz. Maria não tem meios para sustentar o desejo de ser actriz, trabalha num supermercado uma parte do dia e na outra ensaia "Antígona", de Sófocles. E, de repente, há uma sobreposição de problemas: se na ficção a questão de uma sepultura digna para o irmão é o cerne da peça, o que a leva ao confronto directo com Creonte, poder e poder no masculino, no supermercado o direito elementar de seguir os imperativos naturais do corpo são-lhe negados: não a deixam interromper a "laboração" e ir à casa de banho. O confronto com o chefe - poder e poder no masculino, mas poderia agora não ser assim - de turno é inevitável. De uma dada maneira são duas formas de enfrentamento do "grande costume", uma bela, pertencendo a um universo mítico, fundador do humano e da sua negação e outra actual, tão próxima quanto a experiência que se tem do quotidiano e inserida na "sociedade do controlo", da chamada biopolítica. Maria entretanto namora, terceiro modo de ocupação do seu dia-a-dia. Em boa verdade coincidente com o dia das três vezes oito horas: oito de labor, oito de descanso e oito de lazer - mais ou menos isso, desde que revolução industrial vingou. E engravida, como acontece, querendo-se ou não. E de repente nem uma nem outra via se concretizam, nem a de uma profissão de ganhar a vida, nem a de ser actriz. Sófocles, de momento, fica para trás, o teatro como vida. E o pai da criança também, pois desandou. Uma nova vida vem aí, uma vida nova também.
Um filme realizado por Miguel Costa sobre um texto original de Fernando Moura Ramos.