Bioluminescência
30 nov. 2019
Há a poesia das coisas, da coisa por si só, o sol que irradia das coisas, da sua essência. A essência, aquele que respira na sua grande inocência. O inconsciente. Há o observador, o poeta, o intérprete, o eterno apaixonado que quer possuir. Ele deseja ser poesia e por isso tenta aliar-se a essa beleza. Visto não ser possível carregá-la na sua totalidade, só em parte - vasos para plantas, gaiolas para pássaros, aquários para peixes, caixas para pedras e conchas, frascos para areia e terra, casas para gatos e cães, frigoríficos para fiambre e peixe cozido, janelas para ver o mar e outras coisas - o sujeito poeta vai criar propriedade para conter essa beleza, para ser detentor dela. Os anos passam e ele apercebe-se que nenhum dos seus esforços serviu. A sua proximidade com a poesia beleza foi um engano, aliás está mais longe do que nunca. O poeta não aceitou a liberdade das coisas e por consequência não aceitou a sua própria liberdade. O fim da sua beleza. Ele sente-se insatisfeito e por isso destrói, não se aguenta. Suicida-se com as suas coisas. Apesar da fatalidade deste acontecimento, o poeta alega que foi apenas por amor que assim o fez. E na sua carta de suicídio diz-nos: Destruir a casa ponto. Destruir os armazéns, as fortalezas, os legados, os museus, os muros para podermos ver o mar.