As transformações sócio-culturais num jovem país africano em busca da sua identidade.
Vicente, um herói da independência da Guiné, regressa a Bissau após uma viagem a Portugal. Procura capitais para reactivar uma empresa de conservas e deixa-se fascinar pela bela e jovem Yonta, a filha de uns amigos. Esta divide o seu tempo entre a escola, a loja onde trabalha e as discotecas que frequenta à noite. Zé, um estudante oriundo do interior, está apaixonado por Yonta e escreve-lhe cartas de amor anónimas, que ela julga serem de Vicente por quem está, por sua vez, apaixonada. Um dia na discoteca uma amiga lê a todos um poema de amor enviado a Yonta. Uma situação que vai atrapalhar a vida amorosa de Yonta que, tal como o país, luta pela sua auto-afirmação e identidade.
¿Os Olhos Azuis de Yonta¿, a segunda longa metragem do guineense Flora Gomes que fez parte da selecção oficial da secção ¿Un Certain Regard¿ do Festival de Cannes em 1992, retoma, em certa medida, a dimensão documental que presidia a ¿Mortu Nega¿, mas agora hábil e subtilmente articulada com o melodrama romântico. A partir de uma situação de triângulo amoroso entre um empreendedor homem de negócios, antigo combatente da guerra da independência, uma jovem e bela rapariga da geração livre de um novo estado independente e um jovem estudante pobre, incapaz de expressar directamente os seus sentimentos, Flora Gomes manipula e equaciona com inteligência e sensibilidade as contradições, as mutações socio-culturais e as perplexidades de um novo país africano em busca da sua identidade, onde a cidade de Bissau se assume como o centro de todas estas paixões não correspondidas bem como de todas as complexas e difíceis transformações a que todos, de uma forma ou outra, se sujeitam. Um belo retrato do pitoresco e fascinante mosaico de contradições, desilusões e esperanças da Guiné.