Pedro Costa volta a filmar, de forma radical, a miséria, a exclusão, o desalento e a auto-destruição num filme incómodo, brutal e impressionante, que é o mais desconcertante olhar sobre "os miseráveis" do século XXI
Vanda, uma pobre vendedora ambulante, vive num bairro degradado e clandestino de Lisboa. Depois de percorrer ruas e ruelas tentando vender de porta em porta os seus legumes, Vanda, refugia-se no seu miserável quarto e nos vapores da droga. O bairro está em fase de demolição, tal como a sua deplorável existência. Vanda passa, cada vez mais tempo, dominada pela droga e mergulhada no mais absoluto desalento. No quarto da Vanda, tem-se uma impressionante e clara perspectiva de uma morte anunciada, que se vai aproximando como as máquinas que vão demolindo o bairro.
Pedro Costa volta a filmar, de forma radical, a miséria, a exclusão, o desalento e a auto-destruição. Depois de "Ossos", Costa, parece ter encontrado o tom e o estilo do seu cinema. Depurou e afinou o mais incómodo, impressionante e brutal olhar sobre "os miseráveis" do século XXI, num país moderno da União Europeia. "No Quarto da Vanda", nas suas quase 3 horas de imensos planos fixos, na sua incrível dimensão ultra-realista de drama do quotidiano, filmado até aos limites da razão, é, mais uma vez, um registo de uma cruel violência sobre essa estranha forma de existência que se chama pobreza. Com Vanda Duarte, a actriz de "Ossos", de novo no principal papel, "No Quarto da Vanda", é uma obra de uma total ousadia que confirma Pedro Costa com um autor cinematográfico absolutamente singular.
Apoios: ICAM