A ÚLTIMA VITÓRIA DO ANO por Rui Alves

Aurora Cunha é uma das primeiras grandes fundistas portuguesas, contemporânea de Rosa Mota, não atinge a popularidade da atleta da Foz do Douro, não só pela sua maneira de ser, mas também por não ter conquistado tantas vitórias nas grandes competições internacionais.

Natural de Ronfe, pequena freguesia do concelho de Guimarães, Aurora tem 16 anos quando começa a cintilar nas corridas da terra. Em 1976, lutando e muito contra os preconceitos da época, até contra o padre da aldeia, vai pela primeira vez a Lisboa para participar nos campeonatos nacionais.

São os primeiros quilómetros dos muitos que irá correr sempre com uma passada rápida, sem receio de ganhar!

A desconhecida de 17 anos, logo no primeiro dia, ...deixa para trás todas as adversárias, incluindo, a então recordista Rosa Mota, e triunfa nos mil e quinhentos metros.

No dia seguinte, ...corre sozinha mais de dois quilómetros e bate o recorde nacional dos três mil metros.

Apesar das condições de treino não serem as melhores, Aurora acredita no atletismo como alternativa ao seu emprego numa empresa de têxteis.

E mesmo com os muitos êxitos que consegue: três títulos mundiais de estrada, lugares de honra em Jogos Olímpicos (6º) e Campeonatos da Europa (4º), recordista nacional em todas as distâncias dos 800 aos 10.000 metros, vitórias em maratonas internacionais, nunca teve o merecido reconhecimento público.

Uma das grandes vitórias de Aurora acontece na mais popular e prestigiada corrida de S. Silvestre do Mundo, ao triunfar de uma forma brilhante, a 64ª corrida, disputada no último sábado de 1988 na capital paulista.

No palmarés da prova, estão inscritos como vencedores, três atletas Portugueses, Manuel Faria, Carlos Lopes e... Rosa Mota

De pé ligeiro na última noite do ano, a atleta de 29 anos, que foi 7ª classificada na edição da prova de 1980, coleciona uma vitória categórica, cortando a meta com mais de um minuto de vantagem sobre a 2ª classificada, a inglesa Wendy Sly.

O público de S. Paulo reconhece o valor desta mulher do Norte e homenageia com aplausos ao longo de todo o percurso de 12 quilómetros e seiscentos metros.