VOZ DE CABO VERDE, por João Carlos Callixto
9 Mar 1976 - "Povo de mundo intero"
A música produzida nas ex-colónias portuguesas ém África teve diferentes níveis de divulgação conforme os territórios e as épocas. Se necessariamente em Angola e Moçambique houve sempre mais intérpretes e grupos a chegar a disco, quer por via dos mercados locais (ou pelo sul-africano, no caso de Moçambique) quer pelas inúmeras gravações feitas na então metrópole, os territórios de Cabo Verde, da Guiné e de São Tomé e Príncipe conheceram sortes desiguais neste capítulo. Destes três, destacar-se-ia desde muito cedo a presença em disco da música cabo-verdiana, com gravações comerciais ainda vindas dos tempos dos discos de 78 rotações.
Depois de entre os finais dos anos 50 e inícios de 60 se estrearem cantores como Fernando Quejas ou Marino Silva, a partir de meados da nova década chegam então a disco as vozes seminais de Bana e de Cesária Évora – talvez as duas mais populares de sempre oriundas de Cabo Verde. Mas é também nessa altura que, a partir dos Países Baixos, surge um grupo que iria marcar para sempre a História da Música de Cabo Verde – tanto pelo talento dos seus integrantes como pela transversalidade de repertório, que juntava sucessos da música pop a melodias de dança latinas e, mais tarde, a canções da autoria do grupo que celebravam a independência do seu país.
Entre os discos apenas creditados à Voz de Cabo Verde e outros em que o seu fundador, o saxofonista Luís Morais, é também chamado à titularidade, o grupo tem uma das discografias mais extensas do período, totalizando algumas dezenas de álbuns. Na primeira fase, na segunda metade dos anos 60, integraram o conjunto Morgadinho, Frank Cavaquinho, Jean da Lomba, Toi de Bibia, Djosinha e Chico Serra. Vários destes músicos viriam também a gravar a solo ou com outras formações, com a etiqueta Morabeza Records. Esta editora, fundada em Roterdão em 1965 pelo também músico Djunga de Biluca, tinha começado com o nome Casa Silva e nela se estreara Cesária Évora e Luiz Rendall, então um nome veterano do panorama musical de Cabo Verde.
“Dançando com a Voz de Cabo Verde”, “Mechê”, “Partida” ou “Instrumental” são alguns dos álbuns publicados pelo grupo na segunda metade dos anos 60, mas a formação que aqui vemos em imagens captadas no programa da RTP "Com Todas as Letras" (onde Eduardo Prado Coelho era um dos coordenadores) é já a que se segue a uma pausa no grupo e subsequente reformação tendo apenas Luís Morais como elemento original. Leonel Almeida e um muito jovem Paulino Vieira estão entre os membros desta formação, tendo ambos passado pelo conjunto Birds. A canção aqui apresentada, “Povo de Mundo Intero”, abre o álbum “Luís e Manel”, assinado por Luís Morais e Manuel Tidjena e gravado com a Voz de Cabo Verde, sendo o compositor da mesma Manuel Faustino - mais tarde chefe da Casa Civil do Presidente de Cabo Verde.
O percurso do grupo continuaria pelos anos 80, sempre com forte presença mediática e cultural, tendo recentemente sido publicada uma biografia da autoria do jornalista português David Santos. “Voz de Cabo Verde – A História de um Povo” junta ainda um documentário vídeo, ajudando a preservar a memória de um grupo cuja obra e cujos músicos continuam a marcar gerações. Nem de propósito, Paulino Vieira tem agendado um raríssimo concerto no Centro Cultural de Belém para Fevereiro de 2023 – será sem dúvida uma celebração de vida que a passagem pela Voz de Cabo Verde modelou para sempre.
Depois de entre os finais dos anos 50 e inícios de 60 se estrearem cantores como Fernando Quejas ou Marino Silva, a partir de meados da nova década chegam então a disco as vozes seminais de Bana e de Cesária Évora – talvez as duas mais populares de sempre oriundas de Cabo Verde. Mas é também nessa altura que, a partir dos Países Baixos, surge um grupo que iria marcar para sempre a História da Música de Cabo Verde – tanto pelo talento dos seus integrantes como pela transversalidade de repertório, que juntava sucessos da música pop a melodias de dança latinas e, mais tarde, a canções da autoria do grupo que celebravam a independência do seu país.
Entre os discos apenas creditados à Voz de Cabo Verde e outros em que o seu fundador, o saxofonista Luís Morais, é também chamado à titularidade, o grupo tem uma das discografias mais extensas do período, totalizando algumas dezenas de álbuns. Na primeira fase, na segunda metade dos anos 60, integraram o conjunto Morgadinho, Frank Cavaquinho, Jean da Lomba, Toi de Bibia, Djosinha e Chico Serra. Vários destes músicos viriam também a gravar a solo ou com outras formações, com a etiqueta Morabeza Records. Esta editora, fundada em Roterdão em 1965 pelo também músico Djunga de Biluca, tinha começado com o nome Casa Silva e nela se estreara Cesária Évora e Luiz Rendall, então um nome veterano do panorama musical de Cabo Verde.
“Dançando com a Voz de Cabo Verde”, “Mechê”, “Partida” ou “Instrumental” são alguns dos álbuns publicados pelo grupo na segunda metade dos anos 60, mas a formação que aqui vemos em imagens captadas no programa da RTP "Com Todas as Letras" (onde Eduardo Prado Coelho era um dos coordenadores) é já a que se segue a uma pausa no grupo e subsequente reformação tendo apenas Luís Morais como elemento original. Leonel Almeida e um muito jovem Paulino Vieira estão entre os membros desta formação, tendo ambos passado pelo conjunto Birds. A canção aqui apresentada, “Povo de Mundo Intero”, abre o álbum “Luís e Manel”, assinado por Luís Morais e Manuel Tidjena e gravado com a Voz de Cabo Verde, sendo o compositor da mesma Manuel Faustino - mais tarde chefe da Casa Civil do Presidente de Cabo Verde.
O percurso do grupo continuaria pelos anos 80, sempre com forte presença mediática e cultural, tendo recentemente sido publicada uma biografia da autoria do jornalista português David Santos. “Voz de Cabo Verde – A História de um Povo” junta ainda um documentário vídeo, ajudando a preservar a memória de um grupo cuja obra e cujos músicos continuam a marcar gerações. Nem de propósito, Paulino Vieira tem agendado um raríssimo concerto no Centro Cultural de Belém para Fevereiro de 2023 – será sem dúvida uma celebração de vida que a passagem pela Voz de Cabo Verde modelou para sempre.