VIEIRA DA SILVA por João Carlos Callixto

Riso & Ritmo, 28 Dez 1969 - "Porque É Urgente Cantar"

O trabalho pioneiro de José Afonso, Luís Cília e Adriano Correia de Oliveira, na primeira metade da década de 60 e no âmbito da canção dita de protesto ou de cariz interventivo, foi marcante para toda uma geração. Hoje, no “Gramofone”, trazemos um desses nomes.

Chama-se António Manuel Vieira da Silva, mas é conhecido apenas pelos dois apelidos com que sempre assinou os seus trabalhos discográficos e as suas composições. Nascido em Ílhavo, dá nas vistas no Verão de 1969 ao vencer os prémios de Interpretação e de Composição no 1º Festival de Música Popular Portuguesa, que se realizou no Casino da Figueira da Foz.


As páginas do “Mundo da Canção”, a histórica publicação fundada no Porto em Dezembro de 1969 por Avelino Tavares, acolhem desde logo a obra deste cantautor, que chega aliás a assumir a direcção da revista em Maio de 1974. Nela estavam vários outros cantautores que começavam as suas carreiras nesse ano de 1969 em que co-existiram dois programas também eles históricos para a RTP: o “Zip-Zip” e o “Riso & Ritmo”, que vinha já de 1965.

Armando Cortez e Francisco Nicholson, actores, e Eugénio Pepe, músico, foram os grandes motores por trás do programa e da editora discográfica homónima que surge pouco depois. É para aí que gravará Vieira da Silva, logo em 1969. O seu primeiro disco, “Canção para um Povo Triste”, é também o único em que o acompanhamento fica apenas a cargo da sua guitarra.


Depois de um single de Natal repartido com a cantora Rute, também divulgada pelo programa “Riso & Ritmo”, é editado em inícios de 1970 o 2º disco do músico, de novo um EP. “Para a Construção da Cidade Necessária”, que lhe dá título, era uma de duas faixas que Vieira da Silva compusera para a voz de Mirene Cardinalli – mas a cantora morrera num acidente de automóvel em finais de 1969 sem as chegar a registar.

Esse trágico evento sucede pouco depois da gravação da emissão do “Riso & Ritmo” que hoje aqui trazemos, onde tanto Mirene como Vieira da Silva eram convidados. O cantautor interpreta “Porque É Urgente Cantar” num cenário de um prédio em construção, ao lado de Francisco Nicholson, que servira também para uma das habituais rábulas humorísticas do programa.

O último disco de Vieira da Silva antes de Abril traz pela primeira vez um texto que não é de sua autoria: “Canção do Amor Difícil”, com assinatura de José Viale Moutinho. O cantautor escreve ainda para fadistas como Ada de Castro, Maria do Espírito Santo – em “Fado da Minha Revolta” - ou José Bravo, e grava dois últimos singles na segunda metade da década de 70 com a colaboração de José Cid, já próximos, ao nível dos arranjos, de algumas linguagens do rock progressivo, em sábio balanço com as tradições nacionais.