TROVANTE por João Carlos Callixto

16 Abril 1978 - Festa da Música, "Hoje"

Hoje, o “Gramofone” viaja até ao início do percurso de um dos grupos mais celebrados da história da música portuguesa: os Trovante. Formados em 1976, na sequência do encontro em Sagres de João Gil e Artur Costa (que tinham integrado o grupo Soviete do Areeiro) com Manuel Faria e com os irmãos Luís e João Nuno Represas, o grupo apresenta-se logo nesse ano na 1ª Festa do Avante, então realizada no espaço da antiga FIL, na Junqueira (Lisboa).

Outro nome essencial para o nascimento do grupo Trovante é o de Francisco Viana. Filho do compositor homónimo (mais conhecido no âmbito do fado como Vianinha), é Francisco Viana o autor da totalidade das letras de todos os temas dos Trovante gravados na recta final da década de 1970.

A nossa canção de hoje aqui no “Gramofone” chama-se precisamente “Hoje” e faz parte do primeiro álbum dos Trovante, “Chão Nosso”, editado dias antes da 2ª Festa do Avante, no Verão de 1977. Apesar de o disco não ter contado com a prestação de Artur Costa, nesta peça gravada pela RTP para o programa “Festa da Música” o músico já surge de novo integrado no grupo que ajudara a fundar.



Editado pela Sassetti, esse primeiro álbum contou com produção de Pedro Osório, tendo-se ainda juntado ao grupo dois músicos já experientes: Luís Duarte, na guitarra baixo, e Guilherme Inês, na bateria. Com Manuel Faria aos comandos de um sintetizador Roland, não admira que a crítica da altura tenha tecido comparações com algum rock progressivo da época, especialmente nos cruzamentos com as músicas de inspiração tradicional.

Influenciados pela obra de grupos como os Quilapayún ou os Inti-Illimani - tal como a Brigada Victor Jara, em Coimbra – os Trovante participam poucos meses depois desta peça da RTP no 11º Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes, em Cuba, onde interpretam a canção “Nuvem Negra”. No final desse ano, é publicado o segundo álbum, “Em Nome da Vida”, com produção de um nome ligado à divulgação do jazz, Manuel Jorge Veloso, e com colaborações de Fausto, de Pedro Caldeira Cabral ou de Rui Cardoso.



Junta-se então ao grupo a cantora Né Ladeiras, que tinha integrado a Brigada Victor Jara, e 1979 vê assim surgir o single “Toca a Reunir”, único trabalho desta formação em sexteto. Na mesma altura, participam também nos álbuns “Fura Fura”, de José Afonso, e “Histórias de Viageiros”, de Fausto.

Mas seria preciso dobrar a década para que o grande sucesso chegasse. Com o terceiro álbum, “Baile no Bosque”, encontramos os Trovante na Valentim de Carvalho e temas como “Balada das Sete Saias”, “Outra Margem” e “Prima da Chula” são alguns dos culpados pela popularização da sua música em pleno boom do rock português, numa altura em que Fernando Júdice e António José Martins primeiro e José Salgueiro depois se vêm juntar ao grupo.

Com uma discografia regular ao longo de toda a carreira, a canção “Timor”, do álbum “Um Destes Dias”, editado em 1990, torna-se num hino da causa por Timor-Leste. Pouco depois, e nunca renunciando à intervenção cívica na sua obra a solo ou integrada noutros projectos, os membros dos Trovante dão por findas as actividades do grupo, tendo-se no entanto já reunido por mais do que uma vez para concertos especiais.