OS EKOS por João Carlos Callixto

8 Abr 1965 - "Lamento aos Céus"

Se pensarmos nos dois grandes grupos do pop rock português de meados de 60s, chegamos naturalmente aos nomes dos Ekos e dos Sheiks. Estes últimos passaram já pelo “Gramofone” - é agora a vez dos Ekos!

Formados no início de 1963, por iniciativa do baterista Mário Guia – mais tarde, o grande responsável da sala lisboeta Rock Rendez-Vous – tinham inicialmente como referência os Shadows. João Camilo Lopes Júnior, na guitarra solo, Joca Santos, na guitarra ritmo, e António Vieira, na guitarra baixo, completavam o lote de instrumentistas, a que se veio juntar pouco depois um cantor. Assinando então Eddie Gonzalez, viria a ser conhecido como Edmundo Falé. Não chega, no entanto, a gravar nenhum disco com o grupo, e inicia após a sua saída dos Ekos uma carreira a solo.

Em 1964, já com Zé Luís como vocalista, conhecem no Verão algarvio um dos seus ídolos, o inglês Cliff Richard, que chegam aliás a acompanhar numa festa privada. No entanto, a chegada dos Beatles à cena musical tinha sido determinante e quando os Ekos gravam o primeiro disco, publicado em 1965 pela Rádio Triunfo, essa influência está bem presente.

“Esquece”, versão de “Hold Me”, popularizado pelo americano P.J. Proby, é a canção que abre o disco e rapidamente se torna num dos ex-libris dos grupo. Mas as outras três faixas desse EP são todas originais: “Ilusão”, de Zé Luís, e “Os Tristes Olhos” e “Lamento aos Céus”, estas saídas da pena de Mário Guia, o principal compositor do grupo.

É esta última que passa hoje aqui no “Gramofone”, com imagens do programa “Ritmo”, da RTP, apresentado por Henrique Mendes e transmitido a 8 de Abril de 1965. Na mesma emissão, estavam os Sheiks e o Duo Ouro Negro, dois grupos que, tal como os Ekos, marcaram presença num Festival baptizado de “Ouro Negro Show” - organizado pelos músicos angolanos e que teve lugar no dia 14 de Abril seguinte, no Coliseu dos Recreios.

Cerca de um ano depois, os Ekos classificam-se em 5º lugar na final do Grande-Concurso do Ié-Ié, que teve lugar no Monumental, em Lisboa, tendo-se sagrado vencedores os Claves. Sai então o terceiro disco do grupo, o primeiro composto apenas por originais – no 2º trabalho, editado em finais de 1965, havia versões de Brian Poole & the Tremeloes e uma adaptação da melodia do “Rêve d'Amour”, de Franz Liszt.

O serviço militar acaba por trocar as voltas ao grupo e, nos dois discos que gravam em 1967, apenas Mário Guia e João Camilo Lopes Júnior se mantêm. Luís Paulino, Zé Nabo (que assinava então como Eddy Fróis) e Tony Costa são os novos membros, e trazem também uma aproximação ao psicadelismo então em moda. Segue-se uma pausa nas actividades, após a qual os Ekos regressam para um último disco em 1970, em que marca presença um naipe de sopros e onde Zé Luís, Joca Santos e António Vieira assinam as composições musicais. Poderia ter sido o início de um novo percurso, já que o som do grupo estava perfeitamente a par do que se fazia internacionalmente – mas os céus não quiseram assim!