MÍSIA, por João Carlos Callixto
23 Junho 1991 - "Porto Sentido"
O percurso de Mísia foi único desde o início da sua carreira a solo, já lá vão mais de trinta anos, ao ousar reinventar o fado do lado de dentro - ainda que com muitos olhares sobranceiros, especialmente de espíritos mais conservadores. Mas nenhuma “revolução” se faz sem cortes e Mísia tem sabido fazê-los de forma quase cirúrgica, cruzando universos literários e musicais menos esperados e mantendo sempre preocupações de ordem estética nas abordagens apresentadas. Natural do Porto, começou a sua carreira musical em Espanha, destacando-se na cena musical da Catalunha (terra natal da sua mãe) em princípios da década de 1980 com um disco gravado em duo contendo canções tradicionais catalãs.
Mas seria já em Portugal e no início da nova década que nasce artisticamente a Mísia que aprendemos a conhecer. Estreando-se nos discos na EMI - Valentim de Carvalho, em 1991, com um álbum produzido por António Chainho - com este guitarrista e ainda Carlos Manuel Proença e Pedro Nóbrega e com canções de Carlos Paião, José Niza, Rui Veloso, Tozé Brito ou Nuno Nazareth Fernandes - logo aqui se percebia que os universos em que esta voz se movia não seriam os mais óbvios. Ecléctica, foi precisamente com o “Porto Sentido” (letra de Carlos Tê e originalmente incluída no álbum “Rui Veloso”, de 1986) que Veloso cantara que sugiu no programa “Regresso ao Passado”, de Júlio Isidro. O popular apresentador percebeu bem a diferença e a frescura que tinha ali presente, sendo que curiosamente o acompanhador ao piano foi o ecléctico maestro Jorge Machado, um dos nomes mais prolíficos da nossa cena musical e que liderara durante os anos 50 e 60 o seu conjunto.
“Fado”, em 1993, trazia a produção de Vitorino e juntava Fernando Alvim (em vez de Pedro Nóbrega) e Manuel Paulo (no acordeão) à equipa musical. Originais de Sérgio Godinho (como “Liberdades Poéticas”), de António Victorino d’Almeida ou do próprio Vitorino surgiam aqui ao lado de versões do belga Jacques Brel, do espanhol Luis Eduardo Aute ou do americano Herman Hupfeld (o clássico “As Time Goes By”), cimentando o lugar tão pessoal que Mísia rapidamente ocupara no nosso panorama musical. Isso mesmo seria confirmado com “Tanto Menos, Tanto Mais” (1995), produzido agora por Manuel Paulo, numa altura em que as actuações internacionais eram já uma realidade para Mísia. Daí para cá, temos assistido a duas décadas e meia preenchidas por aventuras sonoras com parceiros aparentemente improváveis (como Iggy Pop ou Maria Bethânia), surpreendendo sempre disco atrás de disco, até ao recente “Animal Sentimental” (2022). Uma certeza: Mísia continua a ser das vozes mais transgressoramente livres do fado em particular e da nossa música em geral, com reconhecimento dentro e fora de portas.
Mas seria já em Portugal e no início da nova década que nasce artisticamente a Mísia que aprendemos a conhecer. Estreando-se nos discos na EMI - Valentim de Carvalho, em 1991, com um álbum produzido por António Chainho - com este guitarrista e ainda Carlos Manuel Proença e Pedro Nóbrega e com canções de Carlos Paião, José Niza, Rui Veloso, Tozé Brito ou Nuno Nazareth Fernandes - logo aqui se percebia que os universos em que esta voz se movia não seriam os mais óbvios. Ecléctica, foi precisamente com o “Porto Sentido” (letra de Carlos Tê e originalmente incluída no álbum “Rui Veloso”, de 1986) que Veloso cantara que sugiu no programa “Regresso ao Passado”, de Júlio Isidro. O popular apresentador percebeu bem a diferença e a frescura que tinha ali presente, sendo que curiosamente o acompanhador ao piano foi o ecléctico maestro Jorge Machado, um dos nomes mais prolíficos da nossa cena musical e que liderara durante os anos 50 e 60 o seu conjunto.
“Fado”, em 1993, trazia a produção de Vitorino e juntava Fernando Alvim (em vez de Pedro Nóbrega) e Manuel Paulo (no acordeão) à equipa musical. Originais de Sérgio Godinho (como “Liberdades Poéticas”), de António Victorino d’Almeida ou do próprio Vitorino surgiam aqui ao lado de versões do belga Jacques Brel, do espanhol Luis Eduardo Aute ou do americano Herman Hupfeld (o clássico “As Time Goes By”), cimentando o lugar tão pessoal que Mísia rapidamente ocupara no nosso panorama musical. Isso mesmo seria confirmado com “Tanto Menos, Tanto Mais” (1995), produzido agora por Manuel Paulo, numa altura em que as actuações internacionais eram já uma realidade para Mísia. Daí para cá, temos assistido a duas décadas e meia preenchidas por aventuras sonoras com parceiros aparentemente improváveis (como Iggy Pop ou Maria Bethânia), surpreendendo sempre disco atrás de disco, até ao recente “Animal Sentimental” (2022). Uma certeza: Mísia continua a ser das vozes mais transgressoramente livres do fado em particular e da nossa música em geral, com reconhecimento dentro e fora de portas.