MIGUEL GRAÇA MOURA E AMIGOS por João Carlos Callixto

14 Set 1975 - Programa “Pauta Livre”, improviso jazz rock

Na década de 70, era comum os teclistas de grupos de pop rock serem aclamados como heróis das massas: Keith Emerson, dos Emerson, Lake & Palmer, ou Rick Wakeman, dos Yes, davam nas vistas com as suas demonstrações de virtuosismo, o que lhes trazia legiões de fãs e, no caso deste último, ainda uma série de trabalhos a solo de grande envergadura e sucesso.

Em Portugal, se por um lado havia José Cid, com o Quarteto 1111 e depois a solo, como teclista eleito do nosso rock, por outro, vindo do Porto, havia um nome em destaque: o de Miguel Graça Moura. É ele o músico neste “Gramofone”, numa viagem ao ano de 1975 e a ao programa “Pauta Livre”, então transmitido pela RTP.

Desde o final de 1969, com os Pop Five Music Incorporated, já o seu nome se tinha tornado bem conhecido. Entrando para o grupo na altura em que Tozé Brito, membro fundador, se muda para Lisboa e para o Quarteto 1111, Graça Moura é o grande responsável pelas aproximações ao rock de tendências sinfónicas no som dos autores de “Orange” e “Page One”.

Na recta final dos Pop Five, o grupo entra também pelas águas do hard rock, gravando várias canções em Inglaterra que são editadas em Portugal até 1972. No ano seguinte, Miguel Graça Moura edita com o quarteto Smoog um trabalho que põe em evidência as possibilidades do sintetizador moog. “Smoogin´”, um single editado pela Orfeu, tem no lado B outro original, “What's Going On”, em que surgia como convidado o flautista Rui Cardoso.

Este músico, histórico do jazz em Portugal, é um dos convidados na sessão de improviso que a RTP captou para o programa “Pauta Livre” e emitido a 14 de Setembro de 1975. Graça Moura tinha iniciado o programa no mês anterior e assumira que o mesmo se dedicaria à "música dita ligeira". Até ao final da temporada, em Março do ano seguinte, várias foram as áreas da música abordadas, contando sempre com exemplos práticos.

Nesta 4ª emissão, o tema era a improvisação e o músico e apresentador convida uma série de amigos para tocarem várias peças ao seu lado. No órgão, está João Ruela, ficando Rui Cardoso com o saxofone. Estão também o violinista Carlos Zíngaro, fundador do Plexus e da Banda do Casaco e um dos músicos portugueses mais reconhecidos na área da música improvisada; Alberto Jorge, que fôra dos Smoog, dos Psico e dos Nirvana, está ao comando da guitarra baixo; Álvaro Azevedo, ex-companheiro de Graça Moura nos Pop Five e então a começar com os Arte & Ofício, é o baterista; e, por último, encontramos o percussionista brasileiro Don Pantera, que por cá grava com nomes como Paulo de Carvalho, Adriano Correia de Oliveira, Rão Kyao ou Sérgio Godinho.

Por estas alturas, também Miguel Graça Moura edita vários discos a solo, pela Orfeu, todos subordinados ao título genérico “Pianorama”, depois de um bem sucedido “Dez Propostas para Teclados”, gravado em Espanha. Mas a música erudita pura e dura começa aos poucos a tomar a dianteira e as incursões rock são abandonadas. Hoje, é dia de improviso com 41 anos de história!