MARA ABRANTES, por João Carlos Callixto
26 Jan 1964 - "Há uma Forte Corrente Contra Você"
Hoje em dia, quase só quem tem memória da rádio de há quatro décadas se recorda do nome de Mara Abrantes. Com o último trabalho discográfico editado em 1984, as três décadas anteriores foram de uma actividade que conheceu sucesso primeiro no seu Brasil natal e depois em terras lusitanas. Em paralelo, foi funcionária da Emissora Nacional e depois da Antena 1, chegando a apresentar a emissão da manhã da estação de rádio pública.
Nascida em 1934, Mara Abrantes começou por se destacar ainda na adolescência, na TV Tupi, chegando logo depois à rádio, ao teatro e ao cinema. Em disco, estreia-se em 1956 no selo Mocambo, com um disco de 78 rotações que incluía “Sal e Pimenta” e “Um Tiquinho Mais”, vindo esta última a ser censurada pela letra que falava de “beijinhos. Logo no ano seguinte, grava uma canção nova de Antônio Carlos Jobim, “Por Causa de Você”, num disco em que a orquestra é dirigida também pelo celebrado compositor, então com o sucesso e a bossa nova a começarem a espreitar.
Portugal recebe Mara Abrantes em 1958 na que estava para ser uma permanência de poucos meses no teatro e que acabou por se estender até ao final da vida da cantora, em 2021. A indústria discográfica nacional logo a acolhe e em 1959 regista o seu primeiro disco português, que seria também a estreia em vinil. O EP “Mara e o Amor” tem acompanhamento do Conjunto de Jorge Machado e junta duas canções do maestro João Nobre e outras duas brasileiras, incluindo “Eu Não Existo sem Você”, de Vinicius de Moraes e Tom Jobim. Em 1960, novo EP e mais uma vez ao lado de Jorge Machado: “Mara Canta para os Entendidos”, integralmente composto por repertório brasileiro, e onde encontramos “Poema Madrugada”, da autoria de Sivuca, que estava na época em Portugal.
Seria ao terceiro disco, o EP “A Rua dos Meus Ciúmes” (1961), que Mara Abrantes se rendia pela totalidade a canções nacionais num disco seu. Com acompanhamento orquestral dirigido por Joaquim Luiz Gomes – que assinava aqui “O Primeiro Amor”, com letra de Jerónimo Bragança – este seria um disco em que o fado tomava a dianteira. Em 1962, com o EP “Cha Cha Cha da Moça”, a cantora trabalha com o jovem orquestrador Jorge Costa Pinto, marcado pelo jazz e que aqui se passeia de novo por um repertório metade nacional (onde se incluía o amaliano “Foi Deus”) e metade brasileiro (como a canção-título).
“Suave É a Noite”, canção que abria o quinto EP de Mara Abrantes, seria também o único da cantora gravado ao lado do Thilo’s Combo. Com versões de “Derniers Baisers” ou de “Sag Warum”, o disco tem ainda a particularidade de numa primeira edição, logo retirada do mercado, ter as vozes dos radialistas Armando Marques Ferreira e João Martins. Nesse mesmo ano de 1963, encontramos também Mara ao lado do Thilo’s Combo em dois discos deste popular conjunto liderado pelo contrabaixista alemão Thilo Krasmann, cantando “Não e Não” e “Dou e Dou”, do brasileiro Teixeirinha.
No ano em que encontramos Mara Abrantes neste “Gramofone”, a cantora não publica nemhum disco novo. “Há uma Forte Corrente contra Você” não chegaria aliás a disco na sua voz, sendo um sucesso original de 1934 por Francisco Alves (chamado de "Rei da Voz"). As imagens são do programa "Melodias de Sempre", apresentado por Jorge Alves e que contou com acompanhamento da orquestra de Alves Coelho Filho.
Segue-se então uma mudança de editora, da Valentim de Carvalho para a Rádio Triunfo, onde num primeiro disco Mara grava uma deliciosa “Serenata Negra”, em que a dupla Frederico de Brito e Ferrer Trindade parece transplantar-se para África. Mas logo se muda de agulhas, já que no disco seguinte vamos encontrar uma versão cantada em português de “Yesterday”, dos Beatles. Nesta versão, feita pelo popular letrista António José, o acompanhamento é do Conjunto de Shegundo Galarza, aqui pela primeira vez ao lado de Mara. Em 1967, é a vez de o selo espanhol Marfer assinar com a cantora, publicando-lhe um EP onde a nova geração de escritores de canções brasileiros toma a dianteira - com destaque para Geraldo Vandré, de quem aqui se ouve “Quem É Homem Não Chora” e “Disparada”. Esta última tinha sido, aliás, a canção vencedora do Festival de Música Popular Brasileira de 1966, na interpretação empolgante de Jair Rodrigues.
Gravando mais três discos até 1970, a cantora voltaria às gravações só em 1974 e seria já na viragem dos anos 70 para 80 que chegam os sucessos mais recordados: “Os Amantes”, “Horóscopo” e “Guerra dos Meninos”. Curiosamente, o único álbum de Mara Abrantes é também publicado nesta altura: trata-se de “Na Boca do Povo”, de 1979, e que contou com direcção musical de Rui Ressurreição.
Nascida em 1934, Mara Abrantes começou por se destacar ainda na adolescência, na TV Tupi, chegando logo depois à rádio, ao teatro e ao cinema. Em disco, estreia-se em 1956 no selo Mocambo, com um disco de 78 rotações que incluía “Sal e Pimenta” e “Um Tiquinho Mais”, vindo esta última a ser censurada pela letra que falava de “beijinhos. Logo no ano seguinte, grava uma canção nova de Antônio Carlos Jobim, “Por Causa de Você”, num disco em que a orquestra é dirigida também pelo celebrado compositor, então com o sucesso e a bossa nova a começarem a espreitar.
Portugal recebe Mara Abrantes em 1958 na que estava para ser uma permanência de poucos meses no teatro e que acabou por se estender até ao final da vida da cantora, em 2021. A indústria discográfica nacional logo a acolhe e em 1959 regista o seu primeiro disco português, que seria também a estreia em vinil. O EP “Mara e o Amor” tem acompanhamento do Conjunto de Jorge Machado e junta duas canções do maestro João Nobre e outras duas brasileiras, incluindo “Eu Não Existo sem Você”, de Vinicius de Moraes e Tom Jobim. Em 1960, novo EP e mais uma vez ao lado de Jorge Machado: “Mara Canta para os Entendidos”, integralmente composto por repertório brasileiro, e onde encontramos “Poema Madrugada”, da autoria de Sivuca, que estava na época em Portugal.
Seria ao terceiro disco, o EP “A Rua dos Meus Ciúmes” (1961), que Mara Abrantes se rendia pela totalidade a canções nacionais num disco seu. Com acompanhamento orquestral dirigido por Joaquim Luiz Gomes – que assinava aqui “O Primeiro Amor”, com letra de Jerónimo Bragança – este seria um disco em que o fado tomava a dianteira. Em 1962, com o EP “Cha Cha Cha da Moça”, a cantora trabalha com o jovem orquestrador Jorge Costa Pinto, marcado pelo jazz e que aqui se passeia de novo por um repertório metade nacional (onde se incluía o amaliano “Foi Deus”) e metade brasileiro (como a canção-título).
“Suave É a Noite”, canção que abria o quinto EP de Mara Abrantes, seria também o único da cantora gravado ao lado do Thilo’s Combo. Com versões de “Derniers Baisers” ou de “Sag Warum”, o disco tem ainda a particularidade de numa primeira edição, logo retirada do mercado, ter as vozes dos radialistas Armando Marques Ferreira e João Martins. Nesse mesmo ano de 1963, encontramos também Mara ao lado do Thilo’s Combo em dois discos deste popular conjunto liderado pelo contrabaixista alemão Thilo Krasmann, cantando “Não e Não” e “Dou e Dou”, do brasileiro Teixeirinha.
No ano em que encontramos Mara Abrantes neste “Gramofone”, a cantora não publica nemhum disco novo. “Há uma Forte Corrente contra Você” não chegaria aliás a disco na sua voz, sendo um sucesso original de 1934 por Francisco Alves (chamado de "Rei da Voz"). As imagens são do programa "Melodias de Sempre", apresentado por Jorge Alves e que contou com acompanhamento da orquestra de Alves Coelho Filho.
Segue-se então uma mudança de editora, da Valentim de Carvalho para a Rádio Triunfo, onde num primeiro disco Mara grava uma deliciosa “Serenata Negra”, em que a dupla Frederico de Brito e Ferrer Trindade parece transplantar-se para África. Mas logo se muda de agulhas, já que no disco seguinte vamos encontrar uma versão cantada em português de “Yesterday”, dos Beatles. Nesta versão, feita pelo popular letrista António José, o acompanhamento é do Conjunto de Shegundo Galarza, aqui pela primeira vez ao lado de Mara. Em 1967, é a vez de o selo espanhol Marfer assinar com a cantora, publicando-lhe um EP onde a nova geração de escritores de canções brasileiros toma a dianteira - com destaque para Geraldo Vandré, de quem aqui se ouve “Quem É Homem Não Chora” e “Disparada”. Esta última tinha sido, aliás, a canção vencedora do Festival de Música Popular Brasileira de 1966, na interpretação empolgante de Jair Rodrigues.
Gravando mais três discos até 1970, a cantora voltaria às gravações só em 1974 e seria já na viragem dos anos 70 para 80 que chegam os sucessos mais recordados: “Os Amantes”, “Horóscopo” e “Guerra dos Meninos”. Curiosamente, o único álbum de Mara Abrantes é também publicado nesta altura: trata-se de “Na Boca do Povo”, de 1979, e que contou com direcção musical de Rui Ressurreição.