MANUEL DE ALMEIDA por João Carlos Callixto
20 Ago 1979 - "Nem Deus Sabe"
Manuel de Almeida é um dos nomes mais “castiços” do fado, sendo não apenas intérprete como também autor. O seu legado continua assim a ser uma autêntica “escola” de fado, estando gravado recentemente por nomes como os de Gisela João, Pedro Moutinho, Matilde Cid, Ricardo Ribeiro ou Rodrigo Costa Félix. Neste “Gramofone”, a viagem é até 1979, com um raro momento a cores quando a RTP ainda transmitia a preto e branco – a emissão regular colorida só começaria com o Festival RTP da Canção de 1980.
Nascido em 1922, no bairro da Bica, em Lisboa, Manuel de Almeida começa muito novo a frequentar os locais onde então se cantava o fado. Aos poucos, vai-se entrosando cada vez mais no meio, até que em 1951 se profissionaliza como fadista na Tipóia, no Bairro Alto. O percurso discográfico começa em meados dessa década, pela mão do empresário Manuel Simões e do seu selo Estoril. Depois de alguns discos ainda em 78 rotações, com “Tempos Que Já Lá Vão”, “Antigamente” ou “Sofrer d’Amor”, o fadista começa a década de 1960 com um novo contrato discográfico. Desta vez, é o selo portuense Alvorada, da Rádio Triunfo, que lhe publica os primeiros discos de vinil com originais. Nos dois primeiros, com “Ódio de Amor” e “A Única Mulher”, estão ao seu lado os guitarristas Casimiro Ramos e Nicolau Neves, tendo a grande maioria dos fados melodias de Ramos e letras do próprio Manuel de Almeida. No terceiro disco, “Dias de Feira da Ladra”, o acompanhamento era assegurado pelo Conjunto de Guitarras de Raul Nery.
A popularidade de Manuel de Almeida levou-o pouco depois a publicar também noutra firma portuense, a Rapsódia, onde regista em 1961 o “Fado da Despedida”, ao que se segue novo regresso à Alvorada com o EP “A Cor dos Olhos”, em 1963. Em ambos os registos continuava a ter ao seu lado Raul Nery e o seu conjunto, pontualmente com Nicolau Neves no lugar de Júlio Gomes. Segue-se então o primeiro disco de longa duração do fadista, um LP editado nos EUA pelo selo Monitor por intermédio do empresário Emílio Mateus (mais tarde fundador do selo Estúdio) e em que Manuel de Almeida dividia o alinhamento com a fadista Mariana Silva. Aí encontramos algumas canções maiores da década anterior, como “Estranha Forma de Vida”, “Adeus Mouraria” ou até o “Fado das Caldas”, acompanhadas agora por dois outros grandes instrumentistas do fado: Francisco Carvalhinho e Martinho d’Assunção.
Depois de passagens pontuais pela Orfeu (de Arnaldo Trindade), pela espanhola Marfer ou de novo pela Rapsódia, seria a partir de 1967 que Manuel de Almeida “assenta” em termos editoriais, através do já referido selo Estúdio. Aqui, e até pouco antes de 1974, são publicados pela primeira vez discos seus com acompanhamento de orquestra (dirigida por Manuel Viegas), outros com originais de Nóbrega e Sousa (como “A Casa da Malta”) ou ainda tangos brasileiros dos anos 50 popularizados pelo cantor Nelson Gonçalves. Em paralelo, o selo catalão Belter publicava em 1968 e 1969 os primeiros álbuns em nome próprio de Manuel de Almeida, ambos homónimos e com Jorge Fontes na guitarra portuguesa. Na década de 1970, chegam novos álbuns e passagens por editoras como a Metro-Som ou a Imavox, mesmo antes deste momento captado para o programa “Fado Vadio”. Apresentado pelo também fadista Rodrigo (dono do Forte D. Rodrigo, onde Manuel de Almeida foi fadista residente durante muitos anos), o acompanhamento é assegurado por António Parreira, José Luís Nobre Costa, Francisco Gonçalves e António Pires Moliceiro. “Nem Deus Sabe” tem letra de Artur Ribeiro e música de Jaime Santos, e tinha sido gravado em disco em 1971.
A década de 80 veria a edição do LP “Tempo de Fado”, no selo Rossil, mas seria com “Eu Fadista Me Confesso”, o penúltimo álbum de estúdio de Manuel de Almeida, que um novo público se abeira da sua
música. Contando com produção do jazzman Rão Kyao, aqui encontramos tanto fados clássicos como novos temas resultantes da parceria entre este músico e o fadista (alguns deles com letras de António Avelar de Pinho, ex-Banda do Casaco), numa sábia mistura entre tradição e modernidade. O último álbum, “Fado”, seria publicado em 1995 pela Movieplay, e trazia de novo Rão Kyao na direcção, para além da voz convidada da fadista Fernanda Maria. Em Dezembro desse mesmo ano, morria Manuel de Almeida, deixando para trás uma obra que importa conhecer melhor mas que se encontra infelizmente dispersa por muitas casas editoras, urgindo assim um trabalho de reedição e coordenação da mesma.
Nascido em 1922, no bairro da Bica, em Lisboa, Manuel de Almeida começa muito novo a frequentar os locais onde então se cantava o fado. Aos poucos, vai-se entrosando cada vez mais no meio, até que em 1951 se profissionaliza como fadista na Tipóia, no Bairro Alto. O percurso discográfico começa em meados dessa década, pela mão do empresário Manuel Simões e do seu selo Estoril. Depois de alguns discos ainda em 78 rotações, com “Tempos Que Já Lá Vão”, “Antigamente” ou “Sofrer d’Amor”, o fadista começa a década de 1960 com um novo contrato discográfico. Desta vez, é o selo portuense Alvorada, da Rádio Triunfo, que lhe publica os primeiros discos de vinil com originais. Nos dois primeiros, com “Ódio de Amor” e “A Única Mulher”, estão ao seu lado os guitarristas Casimiro Ramos e Nicolau Neves, tendo a grande maioria dos fados melodias de Ramos e letras do próprio Manuel de Almeida. No terceiro disco, “Dias de Feira da Ladra”, o acompanhamento era assegurado pelo Conjunto de Guitarras de Raul Nery.
A popularidade de Manuel de Almeida levou-o pouco depois a publicar também noutra firma portuense, a Rapsódia, onde regista em 1961 o “Fado da Despedida”, ao que se segue novo regresso à Alvorada com o EP “A Cor dos Olhos”, em 1963. Em ambos os registos continuava a ter ao seu lado Raul Nery e o seu conjunto, pontualmente com Nicolau Neves no lugar de Júlio Gomes. Segue-se então o primeiro disco de longa duração do fadista, um LP editado nos EUA pelo selo Monitor por intermédio do empresário Emílio Mateus (mais tarde fundador do selo Estúdio) e em que Manuel de Almeida dividia o alinhamento com a fadista Mariana Silva. Aí encontramos algumas canções maiores da década anterior, como “Estranha Forma de Vida”, “Adeus Mouraria” ou até o “Fado das Caldas”, acompanhadas agora por dois outros grandes instrumentistas do fado: Francisco Carvalhinho e Martinho d’Assunção.
Depois de passagens pontuais pela Orfeu (de Arnaldo Trindade), pela espanhola Marfer ou de novo pela Rapsódia, seria a partir de 1967 que Manuel de Almeida “assenta” em termos editoriais, através do já referido selo Estúdio. Aqui, e até pouco antes de 1974, são publicados pela primeira vez discos seus com acompanhamento de orquestra (dirigida por Manuel Viegas), outros com originais de Nóbrega e Sousa (como “A Casa da Malta”) ou ainda tangos brasileiros dos anos 50 popularizados pelo cantor Nelson Gonçalves. Em paralelo, o selo catalão Belter publicava em 1968 e 1969 os primeiros álbuns em nome próprio de Manuel de Almeida, ambos homónimos e com Jorge Fontes na guitarra portuguesa. Na década de 1970, chegam novos álbuns e passagens por editoras como a Metro-Som ou a Imavox, mesmo antes deste momento captado para o programa “Fado Vadio”. Apresentado pelo também fadista Rodrigo (dono do Forte D. Rodrigo, onde Manuel de Almeida foi fadista residente durante muitos anos), o acompanhamento é assegurado por António Parreira, José Luís Nobre Costa, Francisco Gonçalves e António Pires Moliceiro. “Nem Deus Sabe” tem letra de Artur Ribeiro e música de Jaime Santos, e tinha sido gravado em disco em 1971.
A década de 80 veria a edição do LP “Tempo de Fado”, no selo Rossil, mas seria com “Eu Fadista Me Confesso”, o penúltimo álbum de estúdio de Manuel de Almeida, que um novo público se abeira da sua
música. Contando com produção do jazzman Rão Kyao, aqui encontramos tanto fados clássicos como novos temas resultantes da parceria entre este músico e o fadista (alguns deles com letras de António Avelar de Pinho, ex-Banda do Casaco), numa sábia mistura entre tradição e modernidade. O último álbum, “Fado”, seria publicado em 1995 pela Movieplay, e trazia de novo Rão Kyao na direcção, para além da voz convidada da fadista Fernanda Maria. Em Dezembro desse mesmo ano, morria Manuel de Almeida, deixando para trás uma obra que importa conhecer melhor mas que se encontra infelizmente dispersa por muitas casas editoras, urgindo assim um trabalho de reedição e coordenação da mesma.