JOSÉ MEDEIROS E CÂNDIDA BRANCA-FLOR por João Carlos Callixto

8 Jan 1978 - "Dia de Chuva na Cidade"

O momento de hoje no “Gramofone” será eventualmente uma surpresa para muitos, já que junta duas vozes que surgiram no panorama musical nacional na mesma altura mas que em disco acabaram por nunca gravar ao lado uma da outra. Por um lado, temos o açoriano José Medeiros, com carreira até aos dias de hoje, principal cantor aqui e também autor da composição; por outro, temos Cândida Branca-Flor, que durante duas décadas e meia teve uma carreira com uma popularidade desigual, o que terá contribuído para que tenha posto fim à sua própria vida em 2001. 

Cândida Branca-Flor tinha-se revelado junto do grande público no segundo álbum da Banda do Casaco, "Coisas do Arco da Velha" (1976). Foi aliás a uma das canções do disco, “Romance de Branca-Flor”, que foi buscar o seu apelido artístico. Em paralelo, os dois mentores da Banda do Casaco, António Avelar de Pinho e Nuno Rodrigues, produzem-lhe um primeiro single em nome próprio, que recuperava dois clássicos do reportório de Beatriz Costa: a “Canção da Roupa Branca” e “A Agulha e o Dedal”. Ambas viriam a integrar o álbum de estreia de Cândida Branca-Flor, editado em 1977 pela PolyGram, e que juntava uma série de êxitos oriundos de filmes e peças de teatro de revista dos anos 30 e 40. 

Nascido na Ilha de São Miguel (Açores), José Medeiros tinha aí integrado grupos comoos Bats ou os Phoenix, que não chegariam a gravar. Já no continente, é precisamente neste ano de 1978 que se estreia fonograficamente, pelas mãos da firma portuense Rádio Triunfo. Com arranjos e direcção de um outro jovem músico de então, o guitarrista Armindo Neves, o single “Pedrada no Charco” trazia no lado B este “Dia de Chuva na Cidade” – mas sem a voz de Cândida Branca-Flor que vemos neste videoclip então produzido pela RTP no âmbito do programa “Ligeiríssimo”. 

Já em 1977, José Medeiros escrevera o tema "Carrocel" para a voz da cantora, sendo esta canção incluída no lado B do single “Um, Dois, Três (Agora ou Nunca)”. Os arranjos tinham sido também de Armindo Neves, que neste momento em vídeo vemos logo de início ao comando da sua guitarra. Depois de um segundo single, em 1980, José Medeiros grava três anos depois o seu primeiro álbum, como elemento do grupo Rosa dos Ventos. A solo, esse momento só chegaria com "Ala-Bote", de 1986, numa altura em que Cândida Branca-Flor era uma das vedetas da canção ligeira em Portugal. “Trocas-Baldrocas”, de 1982, e “Vinho do Porto, Vinho de Portugal” (esta cantada com o autor de ambas as canções, Carlos Paião), do ano seguinte, seriam participações suas no Festival RTP da Canção ainda hoje recordadas.