JOSÉ MÁRIO BRANCO por João Carlos Callixto
4 Mai 1974 - "Ronda do Soldadinho"
“Ronda do Soldadinho” é a canção neste “Gramofone” e fez originalmente parte do segundo disco de José Mário Branco, um single editado pelo próprio em França, em 1970. Em Portugal, dias depois do 25 de Abril e recém-regressado de França, o cantautor apresenta em directo na RTP uma versão com a letra ligeiramente alterada, de forma a reflectir o novo momento político do país, e que seria depois gravada pelo GAC-Vozes na Luta. As imagens são do programa "O Caso da Semana", em que o jornalista Luís Filipe Costa entrevista José Mário Branco, tornando-se assim este no primeiro momento musical em arquivo na RTP com o cantautor.
Depois dos estudos musicais no seu Porto Natal, José Mário Branco parte para França em 1963, recusando-se a combater na Guerra Colonial. Será em Paris que dá os primeiros passos nos estúdios de gravação, em 1968, num álbum do cantor James Ollivier, onde é responsável pelos arranjos e pela direcção em vários temas. O seu primeiro registo em nome próprio chega no ano seguinte, por intermédio dos Arquivos Sonoros Portugueses, chancela criada pelo etnólogo Michel Giacometti em 1960 e que contaria com a colaboração do compositor Fernando Lopes-Graça. “Seis Cantigas de Amigo”, um EP, trazia poesia de vários trovadores medievais, incluindo o rei D. Dinis, e contou desde logo com Sérgio Godinho como acompanhante. Em 1970 chega então o single com “Ronda do Soldadinho”, com "Mãos ao Ar!" no lado B, e que aparece em Portugal de forma clandestina e muitas vezes sem capa – era também esse o preço da afronta directa ao regime patente nas duas canções.
Mas a verdadeira ruptura a todos os níveis viria no ano seguinte, quando é publicado o primeiro álbum de José Mário Branco: “Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades”. Pensado para o selo Orfeu, de Arnaldo Trindade, acaba por sair na Sassetti, através da chancela Guilda da Música. A editora estava então a dar os primeiros passos e a contratação de Branco e de Sérgio Godinho desde logo a fez destacar-se. A sessão de apresentação deste álbum e do primeiro disco de Godinho, o EP “Romance de um Dia na Estrada”, teve lugar no Cinema Roma, em Lisboa, a 26 de Novembro de 1971. Todos os presentes (onde não se contavam os autores dos respectivos discos) percebem que a Música Portuguesa não mais seria a mesma. Na mesma altura, sai também outro disco transformador: “Cantigas do Maio”, o quinto álbum de estúdio de José Afonso e que conta precisamente com direcção musical de José Mário Branco.
Os poucos anos que faltavam até à madrugada de 25 de Abril de 1974 trouxeram o segundo álbum do cantautor, “Margem de Certa Maneira” (1972) e novo álbum de José Afonso com produção de Branco, “Venham Mais Cinco” (1973). Os cruzamentos de todas as linguagens – rock, jazz, folk, erudita, entre outras – seriam apanágio destes trabalhos, como dos primeiros álbuns de Sérgio Godinho. Com o pós-revolução, chega então a experiência em grupo do G.A.C.-Vozes na Luta, com quem José Mário Branco se multiplica em actuações pelo país e com quem grava os primeiros álbuns. Sempre inquieto, o músico mantém até à morte inesperada, em Novembro 2019, um trabalho activo em diversas áreas artísticas e com diversos nomes maiores do panorama musical nacional, regressando pontualmente aos seus próprios discos a solo.
Depois dos estudos musicais no seu Porto Natal, José Mário Branco parte para França em 1963, recusando-se a combater na Guerra Colonial. Será em Paris que dá os primeiros passos nos estúdios de gravação, em 1968, num álbum do cantor James Ollivier, onde é responsável pelos arranjos e pela direcção em vários temas. O seu primeiro registo em nome próprio chega no ano seguinte, por intermédio dos Arquivos Sonoros Portugueses, chancela criada pelo etnólogo Michel Giacometti em 1960 e que contaria com a colaboração do compositor Fernando Lopes-Graça. “Seis Cantigas de Amigo”, um EP, trazia poesia de vários trovadores medievais, incluindo o rei D. Dinis, e contou desde logo com Sérgio Godinho como acompanhante. Em 1970 chega então o single com “Ronda do Soldadinho”, com "Mãos ao Ar!" no lado B, e que aparece em Portugal de forma clandestina e muitas vezes sem capa – era também esse o preço da afronta directa ao regime patente nas duas canções.
Mas a verdadeira ruptura a todos os níveis viria no ano seguinte, quando é publicado o primeiro álbum de José Mário Branco: “Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades”. Pensado para o selo Orfeu, de Arnaldo Trindade, acaba por sair na Sassetti, através da chancela Guilda da Música. A editora estava então a dar os primeiros passos e a contratação de Branco e de Sérgio Godinho desde logo a fez destacar-se. A sessão de apresentação deste álbum e do primeiro disco de Godinho, o EP “Romance de um Dia na Estrada”, teve lugar no Cinema Roma, em Lisboa, a 26 de Novembro de 1971. Todos os presentes (onde não se contavam os autores dos respectivos discos) percebem que a Música Portuguesa não mais seria a mesma. Na mesma altura, sai também outro disco transformador: “Cantigas do Maio”, o quinto álbum de estúdio de José Afonso e que conta precisamente com direcção musical de José Mário Branco.
Os poucos anos que faltavam até à madrugada de 25 de Abril de 1974 trouxeram o segundo álbum do cantautor, “Margem de Certa Maneira” (1972) e novo álbum de José Afonso com produção de Branco, “Venham Mais Cinco” (1973). Os cruzamentos de todas as linguagens – rock, jazz, folk, erudita, entre outras – seriam apanágio destes trabalhos, como dos primeiros álbuns de Sérgio Godinho. Com o pós-revolução, chega então a experiência em grupo do G.A.C.-Vozes na Luta, com quem José Mário Branco se multiplica em actuações pelo país e com quem grava os primeiros álbuns. Sempre inquieto, o músico mantém até à morte inesperada, em Novembro 2019, um trabalho activo em diversas áreas artísticas e com diversos nomes maiores do panorama musical nacional, regressando pontualmente aos seus próprios discos a solo.