JOSÉ MANUEL OSÓRIO por João Carlos Callixto

11 Jun 1975 - "Romance de Manuel Domingos Louzeiro"

O fado viu chegar em finais da década de 60 algumas vozes novas. Uma delas foi a de José Manuel Osório, que trazemos hoje ao “Gramofone” com um momento gravado em 1975 para o programa “Pifelim”, de António Montez, Francisco Nicholson e Henrique Viana.

Seis anos antes, o fadista tinha assinado contrato com a editora Movieplay, que começara recentemente a operar em Portugal, e estreia-se com um disco num formato pouco convencional: um duplo EP, com o título “Uma Voz do Fado”. A escolha dos autores das palavras cantadas fugia também às normas, com José Carlos Ary dos Santos, numa das primeiras vezes em que um texto seu era cantado, ou Luíza Neto Jorge, naquele que será porventura o seu único poema posto em música e editado em disco.

“Romance de Pedro Soldado”, com palavras de Manuel Alegre cantadas na música do fado menor do Porto, veria então a sua difusão proibida na Emissora Nacional. Isso não demoveu no entanto a Casa da Imprensa de atribuir a José Manuel Osório o Prémio de Melhor Fadista de 1970, apesar de não ter sido autorizado a cantar no certame de atribuição dos galardões.


O trabalho seguinte incluía “Que Povo É Este”, um texto de Vasco de Lima Couto que é também gravado na mesma altura por João Braga, e um fado com quadras de António Aleixo, para além de dois poemas de Manuel Alegre. O poeta popular, nascido no Algarve no final do séc. XIX, chegara pela primeira vez às espiras do vinil pelas mãos de José Afonso, que o musica no início da década de 60. Até 1970, outros nomes associados ao movimento da canção de protesto e ainda diversos fadistas escolhem quadras de Aleixo, confirmando a perenidade da sua obra.

“Romance de Manuel Domingos Louzeiro”, a nossa música de hoje e primeiro tema do terceiro disco de José Manuel Osório, conta a história de um famoso ladrão algarvio. Nesse mesmo ano de 1971, também José Niza pegaria nas quadras de Aleixo, com Adriano Correia de Oliveira a gravar a sua versão.

Depois de um quarto disco, também em formato EP e editado pela Zip-Zip, chega o 25 de Abril de 1974. Foi preciso esperar um ano depois da revolução para José Manuel Osório ver editado o único álbum da sua carreira, de título “Por Quem Sempre Combateu”, preenchido quase integralmente por textos de Manuel Correia.


O cantor, que foi também actor e agente artístico, seria um dos co-organizadores da Festa do Avante, mas uma das suas outras facetas que permanecerá de forma indelével nas páginas da nossa Música foi a de investigador e autor de trabalhos sobre a História do Fado, com base em pesquisas inéditas. Hoje, é o cantor que toma a dianteira, para que nunca se faça silêncio!