JOSÉ BARATA MOURA por João Carlos Callixto

29 Dezembro 1969 - Zip-Zip, “É Natal”

É impossível falar em música para crianças em Portugal sem falar no nome de José Barata Moura. No entanto, a sua obra musical divide-se de igual forma entre esta vertente e a canção de protesto e de intervenção.

Tendo estudado no Liceu Charles Lepierre, em Lisboa, José Barata Moura é doutorado em Filosofia, e foi ainda reitor da Universidade de Lisboa entre 1998 e 2006. A sua bibliografia nesta área científica é vasta e iniciou-se ainda no apogeu da sua carreira como cantor.

Na juventude passou por grupos como os Vampiros do Diabo, ao lado de futuros membros dos Jets, como João Alves da Costa. Este músico e também escritor viria aliás a acompanhá-lo ao vivo na década de 70.



Em 1969, José Barata Moura é um dos cantores que o país descobre com a abertura permitida pelo programa televisivo “Zip-Zip”. Cantando em francês e não ousando denunciar nas letras as desigualdades sociais de então, apresenta entre outras a música “Frère Souviens-Toi”, que é depois incluída no primeiro LP editado pelo selo discográfico com o mesmo nome do programa.

Na última emissão do “Zip-Zip”, transmitida pela RTP a 29 de Dezembro de 1969, José Barata Moura apresenta-se novamente, desta vez com a canção “É Natal”. Pouco depois, é publicado o primeiro disco a solo do músico, um EP de título “Bidonville”, com arranjos de Thilo Krasmann, que era também o maestro residente no programa da RTP.



Ainda em 1970, José Barata Moura apresenta também as primeiras canções infantis. “Olha a Bola Manel” é desse ano e “Joana Come a Papa” ou “Era uma Vez um Rei” chegam pouco depois, todas editadas em EPs. Em formato álbum, seria preciso esperar pelo final do ano de 1973 para ser publicado o primeiro de vários trabalhos do músico. A demora deveu-se também à sistemática recusa por parte da Comissão de Censura em relação às letras propostas. José Barata Moura perguntava “Porquê Cantar” mas “Vamos Brincar à Caridadezinha” ficou para a história como um dos muitos retratos de uma classe social alheada da verdadeira realidade do país.

“Cravo Vermelho ao Peito”, que aparece pouco depois da revolução de Abril, é outra sátira que ainda hoje permanece como um dos momentos-charneira da obra do cantor, que foi dos mais populares e prolíficos do período. Continuando a gravar até meados dos anos 80, teve em Pedro Osório um dos cúmplices musicais mais assíduos, como no eterno “Fungagá da Bicharada”, à beira de completar 40 anos, e que mais uma vez seria apresentado na RTP.