JOÃO BRAGA por João Carlos Callixto

23 Jul 1979 - "Praia Perdida"

Sempre se falou em novo fado e em novos fadistas – o género, com maior ou menor repercussão comercial, soube sempre encher-se de sangue novo e mostrar a sua eterna vitalidade. Na segunda metade dos anos 60, um dos nomes que para isso contribuiu foi o de João Braga – e é ele o artista em destaque neste “Gramofone”.

O momento que apresentamos foi captado no programa “Fado Vadio”, gravado em 1978 mas emitido apenas em Julho de 1979. O intervalo de tempo foi o suficiente para assistir ao desaparecimento de um dos grandes instrumentistas do fado, José Nunes, que aqui acompanha na guitarra portuguesa a voz de João Braga. Ao seu lado, estão Jorge Fontes, Paquito e Raul Silva.

João Braga tinha começado a cantar fado ainda em jovem, em Cascais, ao lado do seu amigo Francisco Stoffel – um talento que desapareceria precocemente, com apenas um disco gravado. Em 1966, João Braga assina contrato com a Rádio Triunfo, através do selo Aquila, e o ano de 1967 vê a edição dos seus primeiros registos comerciais.



Pela Philips, com quem passa a publicar pouco depois, saem vários trabalhos, alguns gravados em Espanha, com o maestro José Torregrosa. Dedica também um álbum à obra poética de António Calém, um dos grandes letristas do fado. Em 1972, participa no Festival RTP da Canção, com um original da cantautora Rita Olivaes: “Amor de Raiz”. Entre 8 canções, acaba por se classificar em 4º lugar, nesse ano em que a vitória coube de forma expressiva a Carlos Mendes, com “A Festa da Vida”.

Homem de muitas paixões musicais, João Braga tinha co-organizado no ano anterior o 1º Festival de Jazz de Cascais, ao lado do amigo Luiz Villas-Boas, nome histórico na divulgação deste género musical entre nós. Nessa edição, ambos passam por dissabores junto da polícia política, na sequência de uma tomada de posição do músico Charlie Haden a favor dos movimentos de independência das então províncias portuguesas em África.

Com um mandato de captura emitido em seu nome, já depois do 25 de Abril, João Braga fixa-se em Madrid até 1976. Assina então novo contrato discográfico, desta vez com o selo Orfeu, de Arnaldo Trindade, para onde grava os álbuns “Canção Futura” e “Miserere” nessa recta final da década. Já nos anos 80, dedica um álbum à poesia de Fernando Pessoa, tendo aliás ao longo de toda a sua carreira privilegiado sempre as ligações entre o mundo da literatura e o da música. Como convém a um clássico!