GILBERTO GIL por João Carlos Callixto
9 Jun 1970 - "17 Léguas e Meia"
Se a música do Brasil tem desde há décadas uma presença forte em Portugal, chegou a haver uma altura em que as coisas se passavam ao contrário e eram os artistas portugueses que, em décadas como as de 40 a 60, deitavam cartas no país irmão. Esses foram também anos de ouro para os artistas brasileiros, com inúmeros ídolos de rádio a gravar grandes quantidades de discos e a serem acarinhados pelo público. Foi precisamente nessa altura que se forjou o “cérebro electrónico” de Gilberto Gil, que nascera em 1942, em Salvador da Bahia, e a quem a curiosidade e a vontade de tudo abarcar se tem espelhado sempre na sua obra.
O início da década de 1960 veria os primeiros passos “sérios” na música, depois de uma passagem entre 1959 e 1961 pelo grupo Os Desafinados. Em 1962, são assim publicados os trabalhos de estreia do músico em duas frentes: como intérprete e como autor de canções. Na primeira vertente, Gilberto Gil grava dois singles - um particular, para a firma Petrobras, onde se juntam as faixas “Povo Petroleiro” e “Coça, Coça Lacerdinha”; e outro comercial, para a JS Discos, com “Vem Colombina” e “Decisão”, esta de sua autoria – e na segunda, como autor, surge “Bem Devagar”, um single d’As Três da Bahia. Este grupo daria logo depois origem ao famoso Quarteto em Cy e na gravação Gilberto Gil acompanha as vozes ao acordeão. Curiosamente, o músico assina aqui como Gilberto Moreira – o seu primeiro e último nome.
Em 1963, chega o primeiro disco com capa ilustrada de Gilberto Gil – é o EP “Sua Música, Sua Interpretação”, de novo editado pela JS Discos. No Verão do ano seguinte, o músico projecta um especáculo especial ao lado de Caetano Veloso (que tinha conhecido pouco antes), Gal Costa, Maria Bethânia, Tom Zé, entre outros músicos. Chamou-se “Nós, por Exemplo” e inaugurou oTeatro Vila Velha, em Salvador, acabando por ser aquilo a que mais tarde Gil chamaria de “pia baptismal dos artistas baianos”. Só em Maio de 1967 chegaria o primeiro álbum do músico, de título “Louvação”, seguido em 1968 e 1969 por dois álbuns homónimos. Com o tropicalismo em marcha e a TV e a rádio rendidas ao movimento que “canibalizava” influências de várias vertentes artísticas e as regurgitava de uma forma espectacularmente nova e desafiadora para o Brasil militarizado de então, tudo se tornava válido. Assim, não é de estranhar que “17 Léguas e Meia”, a canção de hoje (pertencente ao álbum de 1969, também conhecido como "Cérebro Eletrônico"), tivesse sido originalmente gravada em 1949 pelo sanfoneiro Luiz Gonzaga, ainda em disco de 78 rotações. Em Portugal, sairia no lado B de um single com o popular "Aquele Abraço" no lado A.
O videoclip que aqui se apresenta foi concebido pela equipa do programa da RTP "Discorama", pioneiro na realização regular de videoclips entre nós. As fotografias que se vêem com Gilberto Gil em estúdio foram captadas na garagem do Quarteto 1111, em 1969, onde o músico esteve na sua passagem por Portugal a caminho do exílio em Inglaterra, com Caetano Veloso, por imposição do regime ditatorial brasileiro. Muitas léguas e meia depois, aqui estamos!
O início da década de 1960 veria os primeiros passos “sérios” na música, depois de uma passagem entre 1959 e 1961 pelo grupo Os Desafinados. Em 1962, são assim publicados os trabalhos de estreia do músico em duas frentes: como intérprete e como autor de canções. Na primeira vertente, Gilberto Gil grava dois singles - um particular, para a firma Petrobras, onde se juntam as faixas “Povo Petroleiro” e “Coça, Coça Lacerdinha”; e outro comercial, para a JS Discos, com “Vem Colombina” e “Decisão”, esta de sua autoria – e na segunda, como autor, surge “Bem Devagar”, um single d’As Três da Bahia. Este grupo daria logo depois origem ao famoso Quarteto em Cy e na gravação Gilberto Gil acompanha as vozes ao acordeão. Curiosamente, o músico assina aqui como Gilberto Moreira – o seu primeiro e último nome.
Em 1963, chega o primeiro disco com capa ilustrada de Gilberto Gil – é o EP “Sua Música, Sua Interpretação”, de novo editado pela JS Discos. No Verão do ano seguinte, o músico projecta um especáculo especial ao lado de Caetano Veloso (que tinha conhecido pouco antes), Gal Costa, Maria Bethânia, Tom Zé, entre outros músicos. Chamou-se “Nós, por Exemplo” e inaugurou oTeatro Vila Velha, em Salvador, acabando por ser aquilo a que mais tarde Gil chamaria de “pia baptismal dos artistas baianos”. Só em Maio de 1967 chegaria o primeiro álbum do músico, de título “Louvação”, seguido em 1968 e 1969 por dois álbuns homónimos. Com o tropicalismo em marcha e a TV e a rádio rendidas ao movimento que “canibalizava” influências de várias vertentes artísticas e as regurgitava de uma forma espectacularmente nova e desafiadora para o Brasil militarizado de então, tudo se tornava válido. Assim, não é de estranhar que “17 Léguas e Meia”, a canção de hoje (pertencente ao álbum de 1969, também conhecido como "Cérebro Eletrônico"), tivesse sido originalmente gravada em 1949 pelo sanfoneiro Luiz Gonzaga, ainda em disco de 78 rotações. Em Portugal, sairia no lado B de um single com o popular "Aquele Abraço" no lado A.
O videoclip que aqui se apresenta foi concebido pela equipa do programa da RTP "Discorama", pioneiro na realização regular de videoclips entre nós. As fotografias que se vêem com Gilberto Gil em estúdio foram captadas na garagem do Quarteto 1111, em 1969, onde o músico esteve na sua passagem por Portugal a caminho do exílio em Inglaterra, com Caetano Veloso, por imposição do regime ditatorial brasileiro. Muitas léguas e meia depois, aqui estamos!