FRANCISCO MARTINHO, FERNANDO MAURÍCIO E JOÃO BRAGA, por João Carlos Callixto

6 Ago 1979 - "Igreja de Santo Estêvão"

O programa "Fado Vadio", de finais da década de 70, juntou vozes e instrumentistas que deixaram ou deixam ainda a sua marca na História do Fado. Com percursos distintos, este momento de hoje recorda três populares vozes do género, que se reuniram junto à Igreja de Santo Estêvão, em Lisboa, para cantar este fado que se tornaria um ex-libris na obra de Fernando Maurício.

Cantado no fado vitória, de Joaquim Campos, “Igreja de Santo Estêvão” tem letra de Gabriel de Oliveira e foi cantado por inúmeras outras vozes, como Maria Rosa Rodrigues, Artur Batalha, Vasco Rafael ou Carlos Macedo. O fado vitória é aliás a mesma melodia em que é cantado o poema “Povo Que Lavas no Rio”, de Pedro Homem de Mello, e que Amália Rodrigues popularizaria, numa prática comum no âmbito do fado e que permite ao mesmo tempo a constante actualização de reportórios.

Dos três nomes aqui reunidos, o “decano” era Fernando Maurício. O seu primeiro disco saíra em 1960, na etiqueta Alvorada, da Rádio Triunfo, e nele era acompanhado pelos guitarristas Jorge Fontes e Francisco Pérez Andión (também conhecido como Paquito). Abrindo com “Saudades de Mim”, com letra de João Gomes e música de Miguel Ramos, o disco trazia ainda “O Meu Fado”, “Eterno Desejo” e “Lisboa Formosa”. Fernando Maurício passa depois por diversas editoras, como a portuense Ofir, a espanhola Marfer ou a multinacional Philips, fixando-se na viragem dos anos 60 para 70 no selo Estúdio, de Emílio Mateus. Em meados da década de 70 encontramo-lo na Interdisco, assinando depois contrato com a Metro-Som – para onde regista “Igreja de Santo Estêvão”.

Francisco Martinho estreara-se em disco em 1966, no selo espanhol Marfer. Aí publica dois EPs, onde é acompanhado pelos guitarristas Carlos Gonçalves, João Alberto, Raul Silva e José Maria Nóbrega. No primeiro disco, “Fado por Francisco Martinho”, encontramos “Dá Tempo ao Tempo”, “Três Destinos e um Fado”, “Na Vida de uma Mulher” e “Destino”, e autores como Joaquim Pimentel, Fernando Farinha ou Alfredo Marceneiro. Logo em 1967 é publicado o segundo registo, com composições de Amadeu Ramin, de Filipe Pinto ou Miguel Ramos. Uma passagem pelo selo francês Bel Air, distribuído em Portugal pela mesma Grande Feira do Disco que também tinha a seu cargo a Marfer, precede uma curta incursão pelo catálogo da Philips. Neste caminho paralelo ao do seu amigo Fernando Maurício, Francisco Martinho passa depois para a Estúdio, onde permanece mais tempo e onde grava os primeiros álbuns. É aí, aliás, que Maurício e Martinho gravam várias desgarradas.

Sendo o mais novo dos três fadistas neste “Gramofone”, João Braga publicou os primeiros discos no início do ano de 1967, no selo Aquila, da Rádio Triunfo. A estreia foi com um EP que juntava “Tudo Me Fala de Nós”, “Ausência”, “Saudades da Tua Voz” e “É Tão Bom Cantar o Fado”. Com letras de João Ferreira-Rosa, de João Fezas Vital, de Carlos Conde e de Manuel de Andrade e com acompanhamento do Conjunto de Guitarras de Raul Nery, assim se juntavam o passado e o presente do fado desde logo, num encontro que João Braga continua a privilegiar nos dias de hoje. A sua obra, das mais extensas do género e marcada também pelo encontro com a grande poesia, passou por editoras como a Philips, a Orfeu, a Sassetti ou a Valentim de Carvalho.