FERNANDO FARINHA por João Carlos Callixto
6 Mar 1962 - "Fado das Trincheiras"
A História do Fado está repleta de nomes que foram muito populares em determinados períodos mais ou menos vastos mas que, por razões várias, são hoje em dia pouco ou por vezes nada conhecidos. Quando nos abeiramos da obra gravada e do percurso de vida do fadista Fernando Farinha, não podemos assim deixar de lamentar que o seu vastíssimo legado discográfico, iniciado em miúdo e que durou praticamente até ao fim da vida, esteja hoje quase completamente arredado do convívio do público. Como autor, no entanto, o seu nome continua a correr nas gargantas da nova geração, sendo que apenas nos últimos dez anos gente como Marco Rodrigues, Ricardo Ribeiro, Cuca Roseta, Diamantina, Maria Emília, Pedro Moutinho ou, mais recentemente, Maria Mirra gravaram fados com letra de Farinha.
Natural do Barreiro, o mais tarde baptizado de “miúdo da Bica” veio morar para Lisboa em criança. Começou a gravar também com tenra idade, através do selo Columbia. “O Meu Destino” e “Tem Juízo Rapaz” fazem parte desse primeiro conjunto de gravações, ocorridas no final da década de 1930. Já adulto, na década de 1950, encontramo-lo entre os selos His Master’s Voice e Parlophone (ambos distribuídos pela Valentim de Carvalho), Estoril (do empresário Manuel Simões) e Alvorada (da editora portuense Rádio Triunfo), provando desde logo a popularidade das suas gravações. A partir de 1960 e durante quase vinte anos é com a firma Valentim de Carvalho que mantém contrato discográfico e aí publica vários álbuns e EPs.
No formato álbum, o primeiro de originais chegou apenas em 1966, o que se hoje pode parecer estranho na altura era algo de bastante comum. Vários cantores e grupos faziam todo o seu percurso discográfico em formato de disco de 7 polegadas, sendo muito raros os que chegavam a álbum e mais ainda os que construíam uma discografia regular nesse formato. Assim, “Fados of Portugal”, em que o acompanhamento é assegurado pelo Conjunto de Guitarras de Raul Nery, traz quase exclusivamente letras suas para melodias de nomes grandes do fado como Filipe Pinto, Fontes Rocha ou Casimiro Ramos ou ainda do maestro Joaquim Luiz Gomes. A única letra escrita por outrém é “Ela Passou”, do portuense Neca Rafael, conhecido pelos seus fados jocosos.
Em 1963, Fernando Farinha fôra a estrela do filme biográfico "O Miúdo da Bica", de Constantino Esteves, em que a sua própria vida é retratada. Numa maré de grande sucesso, conseguira mesmo ser coroado Rei da Rádio no ano anterior, um galardão praticamente exclusivo dos intérpretes de canção ligeira da época. No ano de 1963, é também distinguido pela Casa da Imprensa com o prémio de melhor fadista.
“Fado das Trincheiras”, o fado-canção aqui trazida, versa a Primeira Guerra Mundial e tem letra de Félix Bermudes e de João Bastos e música do maestro António Melo – uma figura que muitos portugueses conhecem pela participação como pianista no programa da RTP “Museu do Cinema”, de António Lopes Ribeiro. A canção fazia parte do filme "João Ratão", de 1940, mas a gravação de 1961 por Farinha veio associá-la à Guerra Colonial que então começava em terras de África. As imagen são do programa “Melodias de Sempre”, que recriava clássicos da canção nacional e em que os intérpretes se vestiam de forma adequada à imagem representada por cada canção.
A carreira de Fernando Farinha continuaria incólume depois do 25 de Abril, com álbuns como “Avante! Sempre Avante!...”, de 1975, “O Fado Não É Fascista”, de 1980, ou “Força da Razão”, do ano seguinte. O último álbum de originais foi "50 Anos de Fado", publicado em 1985 pela Movieplay, em que para além das letras as próprias melodias são também da autoria de Farinha – como na divertida “Nem Rei Nem Rock”, que mostra que o humor continuava a fazer parte do percurso do fadista até ao fim.
Natural do Barreiro, o mais tarde baptizado de “miúdo da Bica” veio morar para Lisboa em criança. Começou a gravar também com tenra idade, através do selo Columbia. “O Meu Destino” e “Tem Juízo Rapaz” fazem parte desse primeiro conjunto de gravações, ocorridas no final da década de 1930. Já adulto, na década de 1950, encontramo-lo entre os selos His Master’s Voice e Parlophone (ambos distribuídos pela Valentim de Carvalho), Estoril (do empresário Manuel Simões) e Alvorada (da editora portuense Rádio Triunfo), provando desde logo a popularidade das suas gravações. A partir de 1960 e durante quase vinte anos é com a firma Valentim de Carvalho que mantém contrato discográfico e aí publica vários álbuns e EPs.
No formato álbum, o primeiro de originais chegou apenas em 1966, o que se hoje pode parecer estranho na altura era algo de bastante comum. Vários cantores e grupos faziam todo o seu percurso discográfico em formato de disco de 7 polegadas, sendo muito raros os que chegavam a álbum e mais ainda os que construíam uma discografia regular nesse formato. Assim, “Fados of Portugal”, em que o acompanhamento é assegurado pelo Conjunto de Guitarras de Raul Nery, traz quase exclusivamente letras suas para melodias de nomes grandes do fado como Filipe Pinto, Fontes Rocha ou Casimiro Ramos ou ainda do maestro Joaquim Luiz Gomes. A única letra escrita por outrém é “Ela Passou”, do portuense Neca Rafael, conhecido pelos seus fados jocosos.
Em 1963, Fernando Farinha fôra a estrela do filme biográfico "O Miúdo da Bica", de Constantino Esteves, em que a sua própria vida é retratada. Numa maré de grande sucesso, conseguira mesmo ser coroado Rei da Rádio no ano anterior, um galardão praticamente exclusivo dos intérpretes de canção ligeira da época. No ano de 1963, é também distinguido pela Casa da Imprensa com o prémio de melhor fadista.
“Fado das Trincheiras”, o fado-canção aqui trazida, versa a Primeira Guerra Mundial e tem letra de Félix Bermudes e de João Bastos e música do maestro António Melo – uma figura que muitos portugueses conhecem pela participação como pianista no programa da RTP “Museu do Cinema”, de António Lopes Ribeiro. A canção fazia parte do filme "João Ratão", de 1940, mas a gravação de 1961 por Farinha veio associá-la à Guerra Colonial que então começava em terras de África. As imagen são do programa “Melodias de Sempre”, que recriava clássicos da canção nacional e em que os intérpretes se vestiam de forma adequada à imagem representada por cada canção.
A carreira de Fernando Farinha continuaria incólume depois do 25 de Abril, com álbuns como “Avante! Sempre Avante!...”, de 1975, “O Fado Não É Fascista”, de 1980, ou “Força da Razão”, do ano seguinte. O último álbum de originais foi "50 Anos de Fado", publicado em 1985 pela Movieplay, em que para além das letras as próprias melodias são também da autoria de Farinha – como na divertida “Nem Rei Nem Rock”, que mostra que o humor continuava a fazer parte do percurso do fadista até ao fim.