DAPHNE por João Carlos Callixto
Grande Prémio TV da Canção 1971, "Verde Pino"
Nascida no Porto e actualmente a residir em Inglaterra, Daphne – nome artístico de Clara Stock de Aguiar – conheceu uma curta carreira musical no Portugal das décadas de 1960 e 1970.
Em 1968, a cantora grava o seu primeiro disco: o single “Calmas São as Imagens / Don’t Want You No More”, dos rockers Chinchilas. A banda do guitarrista Filipe Mendes contava então com Daphne e ainda com Judi Brennan nos coros, sendo que pouco depois ambas integram um outro grupo, os Música Novarum.
Ao lado de Nuno Rodrigues, principal compositor, e ainda de António Lobão, este quarteto marcadamente influenciado pela folk de então mas também pelo imaginário dos madrigais renascentistas comete a proeza de vencer o Festival Pop da Costa do Sol e de deixar em segundo lugar o grupo Sindicato, onde pontificavam Jorge Palma ou Rão Kyao.
Editando um único disco, pela Valentim de Carvalho, os Música Novarum apresentam-se ainda no programa “Zip-Zip”, onde interpretam o inédito “Temporal no Monte”. O grupo termina pouco depois, com o então casal Daphne e Nuno Rodrigues a formar os Segundo Andamento, também de curta duração.
Numa época em que em Inglaterra os Fairport Convention, os Pentangle ou a Incredible String Band davam cartas ora na folk ora no rock ora no jazz (ou, no último caso, misturando-lhe psicadelismo e todas as músicas do mundo), Daphne surge então como vocalista de um projecto congénere: os Family Fair.
Carlos Zíngaro, no violino, Celso de Carvalho, no violoncelo, e Carlos Coelho Achega, na guitarra, vêm complementar uma formação completamente atípica para o Portugal de então. Estávamos em 1971 e o único single que publicam – “Mrs. Colbeck / Soldier” – confirma a voz de Daphne como um talento a seguir, aliada aos arranjos ousados de todo o grupo. “Soldier”, uma canção que abordava a guerra do Vietname de forma quase onírica, tinha sido antes vetada para apresentação na RTP.
Mas é a RTP que na mesma altura recebe Daphne como primeira concorrente no Festival da Canção de 1971, com o original “Verde Pino”, mais uma vez da autoria de Nuno Rodrigues. Os arranjos ficaram a cargo do canadiano Dennis Farnon, autor da banda sonora da série “Mr. Magoo”, e então a residir em Portugal.
Neste ano, a música de inspiração folk estava de facto em maré alta, mas a vitória acaba por sorrir a Tonicha, com “Menina do Alto da Serra”. Daphne fica em sétimo lugar, e vê a sua canção editada como lado A de um primeiro disco a solo. Pouco depois, a Valentim de Carvalho publica um segundo single, “Barzabu”. A música seria mais tarde adaptada para a Banda do Casaco, grupo que Daphne viria a integrar.
Antes, a cantora estabelece-se em Londres, onde forma ao lado de Tozé Brito o grupo Som Dois. Apresentam-se ao vivo na capital britânica mas o seu único registo só é publicado já com Tozé Brito de novo em Portugal, na recta final de 1974.
Depois da curta aventura com a Banda do Casaco, Daphne integra ainda o quinteto Fantástica Aventura. Mais perto do espírito pop de então, contavam de novo com Judi Brennan, com o seu marido José Campos e Sousa (recém saído da Banda do Casaco), com João Henrique (autor e intérprete também a solo) e com Francisco Graça (que na década de 60 tinha integrado os Farras e depois os Deltons, por onde passou também Fernando Tordo).
“A Flor e o Fruto”, um original de António Avelar de Pinho e Nuno Rodrigues, chega ao 4º lugar no Festival RTP da Canção de 1977, mas mais uma vez estávamos perante um projecto sem continuidade.
Daphne ainda persistiria durante algum tempo na música – em 1980 encontramo-la num single de Aníbal Miranda, então produtor dos Táxi – mas “Verde Pino” permanece como o momento porventura mais recordado de uma carreira que hoje importa trazer de novo aos holofotes. Só assim se perceberá que Portugal não estava de facto tão fora de sintonia em relação ao cenário musical internacional como muitas vezes se quer fazer crer.
Em 1968, a cantora grava o seu primeiro disco: o single “Calmas São as Imagens / Don’t Want You No More”, dos rockers Chinchilas. A banda do guitarrista Filipe Mendes contava então com Daphne e ainda com Judi Brennan nos coros, sendo que pouco depois ambas integram um outro grupo, os Música Novarum.
Ao lado de Nuno Rodrigues, principal compositor, e ainda de António Lobão, este quarteto marcadamente influenciado pela folk de então mas também pelo imaginário dos madrigais renascentistas comete a proeza de vencer o Festival Pop da Costa do Sol e de deixar em segundo lugar o grupo Sindicato, onde pontificavam Jorge Palma ou Rão Kyao.
Editando um único disco, pela Valentim de Carvalho, os Música Novarum apresentam-se ainda no programa “Zip-Zip”, onde interpretam o inédito “Temporal no Monte”. O grupo termina pouco depois, com o então casal Daphne e Nuno Rodrigues a formar os Segundo Andamento, também de curta duração.
Numa época em que em Inglaterra os Fairport Convention, os Pentangle ou a Incredible String Band davam cartas ora na folk ora no rock ora no jazz (ou, no último caso, misturando-lhe psicadelismo e todas as músicas do mundo), Daphne surge então como vocalista de um projecto congénere: os Family Fair.
Carlos Zíngaro, no violino, Celso de Carvalho, no violoncelo, e Carlos Coelho Achega, na guitarra, vêm complementar uma formação completamente atípica para o Portugal de então. Estávamos em 1971 e o único single que publicam – “Mrs. Colbeck / Soldier” – confirma a voz de Daphne como um talento a seguir, aliada aos arranjos ousados de todo o grupo. “Soldier”, uma canção que abordava a guerra do Vietname de forma quase onírica, tinha sido antes vetada para apresentação na RTP.
Mas é a RTP que na mesma altura recebe Daphne como primeira concorrente no Festival da Canção de 1971, com o original “Verde Pino”, mais uma vez da autoria de Nuno Rodrigues. Os arranjos ficaram a cargo do canadiano Dennis Farnon, autor da banda sonora da série “Mr. Magoo”, e então a residir em Portugal.
Neste ano, a música de inspiração folk estava de facto em maré alta, mas a vitória acaba por sorrir a Tonicha, com “Menina do Alto da Serra”. Daphne fica em sétimo lugar, e vê a sua canção editada como lado A de um primeiro disco a solo. Pouco depois, a Valentim de Carvalho publica um segundo single, “Barzabu”. A música seria mais tarde adaptada para a Banda do Casaco, grupo que Daphne viria a integrar.
Antes, a cantora estabelece-se em Londres, onde forma ao lado de Tozé Brito o grupo Som Dois. Apresentam-se ao vivo na capital britânica mas o seu único registo só é publicado já com Tozé Brito de novo em Portugal, na recta final de 1974.
Depois da curta aventura com a Banda do Casaco, Daphne integra ainda o quinteto Fantástica Aventura. Mais perto do espírito pop de então, contavam de novo com Judi Brennan, com o seu marido José Campos e Sousa (recém saído da Banda do Casaco), com João Henrique (autor e intérprete também a solo) e com Francisco Graça (que na década de 60 tinha integrado os Farras e depois os Deltons, por onde passou também Fernando Tordo).
“A Flor e o Fruto”, um original de António Avelar de Pinho e Nuno Rodrigues, chega ao 4º lugar no Festival RTP da Canção de 1977, mas mais uma vez estávamos perante um projecto sem continuidade.
Daphne ainda persistiria durante algum tempo na música – em 1980 encontramo-la num single de Aníbal Miranda, então produtor dos Táxi – mas “Verde Pino” permanece como o momento porventura mais recordado de uma carreira que hoje importa trazer de novo aos holofotes. Só assim se perceberá que Portugal não estava de facto tão fora de sintonia em relação ao cenário musical internacional como muitas vezes se quer fazer crer.