CHARLES TRENET por João Carlos Callixto
31 Dez 1962 - "La Mer"
Este “Gramofone” viaja a terras estrangeiras mas apenas através do intérprete: Charles Trenet, ao vivo em 1962 no Casino Estoril, a cantar “La Mer”. As imagens vêm de um programa especial de fim de ano aí gravado e que contou com apresentação de Henrique Mendes. No mesmo evento, participou também a espanhola Carmen Sevilla e os portugueses Rui de Mascarenhas e Gina Maria, dando assim origem a um réveillon franco-ibérico de primeira água.
Cantor e compositor, Charles Trenet é um dos nomes mais influentes da canção francesa do séc. XX. Muito novo ainda, no início da década de 1930, encontramo-lo a trabalhar nos estúdios de cinema da Pathé, mas rapidamente o seu desejo de ir mais além o leva a formar um duo com o suíço Johnny Hess. “Vous Qui Passez sans Me Voir” é a canção de que ambos são co-autores e que os leva rapidamente ao sucesso, neste caso na voz do popular Jean Sablon. No entanto, o serviço militar, em 1936, traz uma pausa à carreira de Trenet como intérprete – mas não como compositor, já que são precisamente deste período canções que se tornam conhecidas nas vozes de nomes grandes do show business francês de então, como Maurice Chevalier ou a cantora Fréhel.
“La Mer” tinha sido originalmente escrita em 1943 (o mesmo ano de “Douce France”, um dos grandes sucessos de Trenet), mas o músico não a gravou logo. Chegou aliás a propô-la a uma cantora, Suzy Solidor, que a rejeitou. Seria Roland Gerbeau a gravá-la primeiro, em 1945, logo seguida da própria versão de Trenet, em 1946. Estávamos ainda na era dos discos de 78 rotações, embora o vinil estivesse a dois anos de chegar e de se impor na década seguinte como o formato de eleição do mercado fonográfico a nível mundial. Até aos dias de hoje, e com todas as transformações que esta indústria conheceu, “La Mer” teve mais de 4000 versões, ficando famosas as cantadas em inglês, com o título “Beyond the Sea” - presentes recentemente nas bandas sonoras dos filmes “Finding Nemo” e “Austin Powers in Goldmember”.
No panorama francófono, muitos foram os nomes a reconhecer a influência de Trenet, vindos de vários quadrantes. Jacques Higelin, rocker e fã assumido do cantor, e que tinha também iniciado a sua carreira no circuito dos cabarets parisienses, nunca o escondeu e editou em 2005 o álbum “Higelin Enchante Trenet”, onde recupera várias canções do autor de “La Mer”. Em Portugal, em 1990, “L’Âme des Poètes” foi incluído por Sérgio Godinho no seu espectáculo “Escritor de Canções”, unindo fios que vinham do período em que o nosso cantautor viveu na capital francesa.
O próprio Trenet manteve-se activo quase até ao fim da vida, em 2001, sendo o último disco, “Les Poètes Descendent dans la Rue, de dois anos antes. O seu humor nunca deixaria aliás de estar presente, com canções como “Sexuel Été” ou a frase que diz num dos seus concertos finais, na sala Pleyel, em que refere que o público que o tinha ido ouvir ao vivo estava dispensado de ir ao seu funeral. De forma diferente, é esse humor que o faz dedicar “La Mer” neste momento de final de ano ao Estoril, apesar de a canção ter sido escrita enquanto Trenet observava do comboio a lagoa de Thau, na região francesa do Languedoc.
Cantor e compositor, Charles Trenet é um dos nomes mais influentes da canção francesa do séc. XX. Muito novo ainda, no início da década de 1930, encontramo-lo a trabalhar nos estúdios de cinema da Pathé, mas rapidamente o seu desejo de ir mais além o leva a formar um duo com o suíço Johnny Hess. “Vous Qui Passez sans Me Voir” é a canção de que ambos são co-autores e que os leva rapidamente ao sucesso, neste caso na voz do popular Jean Sablon. No entanto, o serviço militar, em 1936, traz uma pausa à carreira de Trenet como intérprete – mas não como compositor, já que são precisamente deste período canções que se tornam conhecidas nas vozes de nomes grandes do show business francês de então, como Maurice Chevalier ou a cantora Fréhel.
“La Mer” tinha sido originalmente escrita em 1943 (o mesmo ano de “Douce France”, um dos grandes sucessos de Trenet), mas o músico não a gravou logo. Chegou aliás a propô-la a uma cantora, Suzy Solidor, que a rejeitou. Seria Roland Gerbeau a gravá-la primeiro, em 1945, logo seguida da própria versão de Trenet, em 1946. Estávamos ainda na era dos discos de 78 rotações, embora o vinil estivesse a dois anos de chegar e de se impor na década seguinte como o formato de eleição do mercado fonográfico a nível mundial. Até aos dias de hoje, e com todas as transformações que esta indústria conheceu, “La Mer” teve mais de 4000 versões, ficando famosas as cantadas em inglês, com o título “Beyond the Sea” - presentes recentemente nas bandas sonoras dos filmes “Finding Nemo” e “Austin Powers in Goldmember”.
No panorama francófono, muitos foram os nomes a reconhecer a influência de Trenet, vindos de vários quadrantes. Jacques Higelin, rocker e fã assumido do cantor, e que tinha também iniciado a sua carreira no circuito dos cabarets parisienses, nunca o escondeu e editou em 2005 o álbum “Higelin Enchante Trenet”, onde recupera várias canções do autor de “La Mer”. Em Portugal, em 1990, “L’Âme des Poètes” foi incluído por Sérgio Godinho no seu espectáculo “Escritor de Canções”, unindo fios que vinham do período em que o nosso cantautor viveu na capital francesa.
O próprio Trenet manteve-se activo quase até ao fim da vida, em 2001, sendo o último disco, “Les Poètes Descendent dans la Rue, de dois anos antes. O seu humor nunca deixaria aliás de estar presente, com canções como “Sexuel Été” ou a frase que diz num dos seus concertos finais, na sala Pleyel, em que refere que o público que o tinha ido ouvir ao vivo estava dispensado de ir ao seu funeral. De forma diferente, é esse humor que o faz dedicar “La Mer” neste momento de final de ano ao Estoril, apesar de a canção ter sido escrita enquanto Trenet observava do comboio a lagoa de Thau, na região francesa do Languedoc.