CARLOS ALBERTO VIDAL por João Carlos Callixto

30 Jun 1981 - "Dai-me Notícias do Sol"

Neste último “Gramofone” do ano de 2020, trazemos um momento inédito de um cantor que quase todos conhecemos por outro nome. É Carlos Alberto Vidal, dono de uma carreira com mais de 45 anos, mas que desde o início dos anos 80 chegou ao grande público com um alter-ego destinado aos ouvintes mais jovens: o de Avô Cantigas.

Na realidade, Carlos Alberto Vidal surge discograficamente ainda antes de 1974, com dois trabalhos. Pelas mãos da editora Imavox, então detida pelo Rádio Clube Português, é publicado em 1973 um single com “As Filhas da Tia Anica” e “Maria - Noite e Dia”, ambas da autoria de Vidal e com direcção musical de outro jovem de então, o maestro José Calvário. Meses depois, em Março de 1974, sai “Bom Dia, Senhor Alberto!” com “Teu Corpo de Mulher” no lado B. Entre a crítica de costumes e um novo tipo de canção ligeira, com arranjos próximos das linguagens pop rock, estávamos sem dúvida perante um cantautor promissor.

O 25 de Abril trouxe, entre muitas outras coisas mais importantes, a nacionalização do Rádio Clube Português e a consequente nacionalização portanto também da editora Imavox. Carlos Alberto Vidal continua com contrato com a casa e, depois de em 1975 ter feito coros no álbum “Feito Cá p’ra Nós”, de Fernando Tordo, estreia-se então em nome próprio no formato longa-duração com “Changri-Lá”. Estávamos aqui em águas musicais muito mais ambiciosas, num trabalho de certa forma conceptual em redor das reflexões sobre a vida humana, e onde as linguagens do rock progressivo internacional imperavam. Se entre nós os primeiros grupos a cultivar o género tinham surgido ainda na primeira metade de 70s, com os Petrus Castrus à cabeça, seria precisamente nesta recta final da década que uma maior fatia de público se familiariza com ele. O Quarteto 1111, os Tantra ou os Perspectiva são três dos nomes maiores deste âmbito entre nós, com José Cid a apresentar a solo em 1978 o seu hoje famoso álbum “10000 Anos Depois Entre Vénus e Marte”.

Tal como esse disco de Cid, "Changri-Lá", em 1976, não seria imediatamente aclamado como um dos mais importantes álbuns do rock progressivo nacional. A presença de músicos como o baterista Necas (mais tarde dos Ananga-Ranga e da banda de Lena d’Água), Rui Cardoso (antigo membro do Sindicato, ao lado de Jorge Palma e de Rão Kyao) ou de Fernando Correia Martins (violinista, guitarrista e maestro maior da nossa canção ligeira) colocava a fasquia elevada ao nível dos arranjos, da responsabilidade do próprio Carlos Alberto Vidal, mas este seria o seu último disco gravado para a Imavox. Em 1978, encontramo-lo no selo Orfeu, onde deixa o single “Em Mangas de Camisa / Laranja Quente”, cuja primeira canção marcava a sua participação no 1.º Festival da Canção do Tâmega. O universo da canção infantil começa também a cruzar o seu percurso pelas mesmas alturas, com a sua participação na banda sonora da série “Jacky, O Urso de Tallac”, em 1979, ao lado de Tozé Brito. Um dos parceiros de escrita deste último, o falecido jornalista António Tavares Teles, seria aliás o autor da letra de “Um Girassol no Olhar”, com que Carlos Alberto Vidal participa pela primeira vez no Festival RTP da Canção, já em 1980. A gravação seria incluída no lado B de um dos seus dois singles desse ano, “O Pensamento”, ficando uma mais planante “Cidade Flutuante” (defendida pelo cantor no Festival da Nova Canção de Lisboa, em 1979) para o lado B do outro trabalho, “Olhos Tristes”.

O ano deste momento de hoje, 1981, traria também a edição de um single com o descontraído “A Cantiga do Chouriço”, na altura um sucesso junto do grande público. Mas as imagens aqui são do programa "Neste Lugar Onde...", com autoria e apresentação de Natália Correia e que abordava a poesia medieval. Já no final do programa, surgia esta canção inédita em disco, com música de Fernando Guerra (autor de inúmeras composições para vozes como Tonicha, Simone de Oliveira ou Paulo de Carvalho e que chegou a tentar uma carreira como intérprete, em finais de 60s) e com texto de Horácio de Carvalho (ligado maioritariamente ao universo do fado). O ano seguinte seria o da estreia do Avô Cantigas, surgindo a partir daí só muito esporadicamente Vidal em nome próprio – até que, em 2019, é publicado o álbum "Ao Entardecer", mais de quatro décadas depois do mítico “Changri-Lá” (entretanto reeditado em LP, para contento de novos públicos nacionais e também internacionais).