BETTINA JONIC por João Carlos Callixto
2 Ago 1974 - "Zuhälterballade"
Nascida no estado americano do Oregon, em 1938, e falecida em Londres em 2021, a cantora e professora de canto Bettina Jonic tinha origens croatas e um talento que se revelou desde cedo. O bailado foi onde primeiro se notabilizou, tendo participado aos 5 anos numa produção de “A Sagração da Primavera” que contou com direcção do próprio compositor Igor Stravinsky. Mas o casamento em 1961 com o editor britânico John Calder, apesar de ter sido de curta duração, acentuou o seu desejo de permanecer na Europa, para onde tinha vindo estudar no final dos anos 50. Se o canto lírico foi a área onde se destacou, depressa percebeu que lhe interessava o cruzamento de universos e o desmontar de falsas barreiras entre géneros. Em 1967, a edição do seu álbum “Brecht with Music” era já um sinal claro disso mesmo.
Curiosamente, Portugal teve um papel importante no percurso de Bettina Jonic e que está relacionado também com as imagens deste “Gramofone”. Estando instalada num hotel lisboeta com a sua filha Anastasia durante os dias finais de Abril de 1974, a cantora não pôde deixar de ficar marcada por todas as movimentações militares mas também pela própria forma pacífica como se deu a transição para a democracia em Portugal. Já no início de Maio, apresenta as suas leituras dos textos de Bertolt Brecht num país finalmente sem censura, levando-a também a pensar desde logo na pertinência de vir a juntar a obra de um autor contemporâneo. O autor seria Bob Dylan e esse canto cruzado aconteceu em 1975, em Londres, no palco do Royal Court Theater, e no duplo-álbum “The Bitter Mirror”, editado na mesma altura.
Voltando às imagens deste programa, é complicado imaginar a RTP a apresentar a “Canção do Proxeneta” (em alemão, “Zuhälterballade”) antes de Abril, quer pelo título quer pelo que se retratava na letra. Pertencendo ao segundo acto d'”A Ópera dos Três Vinténs" (em alemão, “Die Dreigroschenoper”), com texto de Bertolt Brecht e música de Kurt Weill, a obra tinha estreado em Berlim em 1928 e era inspirada na setecentista “The Beggar’s Opera”, de John Gay. A acompanhar aqui a cantora, está um septeto de músicos portugueses, podendo observar-se a pianista Olga Prats (anos antes da formação do Opus Ensemble) ou o alaúdista Manuel Morais (já então a dirigir os Segréis de Lisboa, primeiro agrupamento português na área da música antiga a deixar lastro em disco). As imagens são do programa "Inventário Musical", apresentado na RTP pelo maestro Francisco d'Orey, que se destacara no Coro da Universidade de Lisboa e no Coro da Juventude Musical Portuguesa.
Curiosamente, Portugal teve um papel importante no percurso de Bettina Jonic e que está relacionado também com as imagens deste “Gramofone”. Estando instalada num hotel lisboeta com a sua filha Anastasia durante os dias finais de Abril de 1974, a cantora não pôde deixar de ficar marcada por todas as movimentações militares mas também pela própria forma pacífica como se deu a transição para a democracia em Portugal. Já no início de Maio, apresenta as suas leituras dos textos de Bertolt Brecht num país finalmente sem censura, levando-a também a pensar desde logo na pertinência de vir a juntar a obra de um autor contemporâneo. O autor seria Bob Dylan e esse canto cruzado aconteceu em 1975, em Londres, no palco do Royal Court Theater, e no duplo-álbum “The Bitter Mirror”, editado na mesma altura.
Voltando às imagens deste programa, é complicado imaginar a RTP a apresentar a “Canção do Proxeneta” (em alemão, “Zuhälterballade”) antes de Abril, quer pelo título quer pelo que se retratava na letra. Pertencendo ao segundo acto d'”A Ópera dos Três Vinténs" (em alemão, “Die Dreigroschenoper”), com texto de Bertolt Brecht e música de Kurt Weill, a obra tinha estreado em Berlim em 1928 e era inspirada na setecentista “The Beggar’s Opera”, de John Gay. A acompanhar aqui a cantora, está um septeto de músicos portugueses, podendo observar-se a pianista Olga Prats (anos antes da formação do Opus Ensemble) ou o alaúdista Manuel Morais (já então a dirigir os Segréis de Lisboa, primeiro agrupamento português na área da música antiga a deixar lastro em disco). As imagens são do programa "Inventário Musical", apresentado na RTP pelo maestro Francisco d'Orey, que se destacara no Coro da Universidade de Lisboa e no Coro da Juventude Musical Portuguesa.