ANTÓNIO MOURÃO, por João Carlos Callixto
9 Jan 1982 - "Senhora Dona Piela"
Hoje em dia é por vezes complicado pensar que houve alturas em que os discos vendiam em grandes quantidades e dentro de diversos géneros musicais. Nas décadas de 1960 e 1970, um dos nomes que chegou a mais público por via do disco, da rádio e da TV foi precisamente António Mourão. Apresentado inicialmente como o “fadista da nova vaga”, a sua voz também abarcava reportório folclórico, canção ligeira ou até próximo de outros universos, como os de Tozé Brito, José Afonso, José Cid ou Carlos Paião.
Fazendo-se notar primeiro ao cumprir o serviço militar obrigatório e sendo depois contratado por casas de fado como a Parreirinha de Alfama ou a Viela, já no início da década de 60, o seu primeiro contrato discográfico é assinado com a firma Telectra, em 1963. Distribuidora em Portugal do catálogo da RCA Victor, é com esta etiqueta que são publicados os primeiros discos de António Mourão. Entre finais de 1963 e meados de 1965, saem “O Velho Fado”, “Maldito Fado”, “O Fadista da Nova Vaga” e “Não Me Arrependo”, contando em todos eles com acompanhamento de primeira água no campo do fado – com os Conjuntos de Francisco Carvalhinho, de Raul Nery e com um Trio onde pontificava Fernando de Freitas.
Seria com o quinto disco, “Ó Tempo Volta p’ra Trás”, uma canção da revista “E Viva o Velho”, que António Mourão conquista o gosto da generalidade do público da altura, com o disco a vender-se aos milhares de exemplares e a canção a perdurar até aos dias de hoje como uma das mais icónicas da época. Eduardo Damas (letra) e Manuel Paião (música) são a dupla responsável pela mesma, contando o cantor neste registo pela primeira vez com acompanhamento orquestral, da responsabilidade do jazzman Jorge Costa Pinto. Sucedem-se então vários discos de fado e outros com novas canções da dupla Damas e Paião, sobrepondo-se a fórmula no primeiro álbum, de 1967, em que ao lado de Jorge Costa Pinto estava o Conjunto de Guitarras de Jorge Fontes. Mas o cantor estava atento às mudanças na canção ligeira e em 1967 a Telectra publicava-lhe o EP “A Nova Face de Mourão”, onde dava voz a textos do estreante Joaquim Pedro Gonçalves (que haveria de escrever “Covilhã, Cidade Neve”, para Amália Rodrigues, ou “Onde Vaios Rio Que Eu Canto”, com que Sérgio Borges vence o Festival da Canção de 1970).
Mudando-se para a Valentim de Carvalho, em finais de 1968, é nessa editora que António Mourão publica a maior parte da sua obra, já que nela permanece até inícios dos anos 80. O título do primeiro álbum aí publicado, “É Sempre Sucesso”, confirma essa popularidade que lhe permitia quase tudo cantar, não temendo as críticas de quem achava que se devia enclausurar em “capelinhas”. Assim, aos discos de folclore ou de reportório latino sucediam-se trabalhos como o álbum “Meu Amor, Meu Amor” (1971) ou “Se Quiseres Ouvir Cantar” (1973). Se no primeiro recupera o amaliano “Meu Limão de Amargura” (de José Carlos Ary dos Santos e Alain Oulman) e lhe junta novos nomes do fado e da canção (como Carlos Alberto França ou Rita Olivaes), no segundo grava o tema-título de Tozé Brito ou poesia de Fernando Pessoa e Vasco de Lima Couto. O mesmo eclectismo permitiu-lhe gravar em 1975 o álbum “Pregão da Liberdade”, com a “Balada do Sino” e “Era de Noite e Levaram”, de José Afonso, ou as “Quadras Populares”, de José Cid. Tudo “Cantigas Que a Gente Canta” (título do álbum seguinte, em 1976, em que contava com textos do seu editor Mário Martins e com acompanhamento de António Chainho).
Em 1979, o single “Fado Reguila” juntava essa canção e “É Natal (Tem de Haver Tempo para Amar)”, dois originais de Carlos Paião, que assim chegava pela primeira vez a disco e ao conhecimento de um público maior. “Canto e Recanto” (1980) seria o seu último álbum pela Valentim de Carvalho e aí grava originais de António Avelar de Pinho, Nuno Rodrigues e José Campos e Sousa (todos da Banda do Casaco) e ainda uma versão de “Gracias a la Vida”, de Violeta Parra.
“Senhora Dona Piela”, a canção deste “Gramofone, seria publicada em single em 1981 e marca o último momento de Mourão na Valentim de Carvalho. Com autoria de César de Oliveira e João Vasconcelos, pertencia à revista “Não Há Nada p'ra Ninguém”, tal como “Zé Ninguém”, a outra canção do disco. As imagens são de uma emissão especial do programa "Sabadabadú", de Camilo de Oliveira e Ivone Silva, em que a actriz brasileira Tônia Carrero era a convidada especial.
Fazendo-se notar primeiro ao cumprir o serviço militar obrigatório e sendo depois contratado por casas de fado como a Parreirinha de Alfama ou a Viela, já no início da década de 60, o seu primeiro contrato discográfico é assinado com a firma Telectra, em 1963. Distribuidora em Portugal do catálogo da RCA Victor, é com esta etiqueta que são publicados os primeiros discos de António Mourão. Entre finais de 1963 e meados de 1965, saem “O Velho Fado”, “Maldito Fado”, “O Fadista da Nova Vaga” e “Não Me Arrependo”, contando em todos eles com acompanhamento de primeira água no campo do fado – com os Conjuntos de Francisco Carvalhinho, de Raul Nery e com um Trio onde pontificava Fernando de Freitas.
Seria com o quinto disco, “Ó Tempo Volta p’ra Trás”, uma canção da revista “E Viva o Velho”, que António Mourão conquista o gosto da generalidade do público da altura, com o disco a vender-se aos milhares de exemplares e a canção a perdurar até aos dias de hoje como uma das mais icónicas da época. Eduardo Damas (letra) e Manuel Paião (música) são a dupla responsável pela mesma, contando o cantor neste registo pela primeira vez com acompanhamento orquestral, da responsabilidade do jazzman Jorge Costa Pinto. Sucedem-se então vários discos de fado e outros com novas canções da dupla Damas e Paião, sobrepondo-se a fórmula no primeiro álbum, de 1967, em que ao lado de Jorge Costa Pinto estava o Conjunto de Guitarras de Jorge Fontes. Mas o cantor estava atento às mudanças na canção ligeira e em 1967 a Telectra publicava-lhe o EP “A Nova Face de Mourão”, onde dava voz a textos do estreante Joaquim Pedro Gonçalves (que haveria de escrever “Covilhã, Cidade Neve”, para Amália Rodrigues, ou “Onde Vaios Rio Que Eu Canto”, com que Sérgio Borges vence o Festival da Canção de 1970).
Mudando-se para a Valentim de Carvalho, em finais de 1968, é nessa editora que António Mourão publica a maior parte da sua obra, já que nela permanece até inícios dos anos 80. O título do primeiro álbum aí publicado, “É Sempre Sucesso”, confirma essa popularidade que lhe permitia quase tudo cantar, não temendo as críticas de quem achava que se devia enclausurar em “capelinhas”. Assim, aos discos de folclore ou de reportório latino sucediam-se trabalhos como o álbum “Meu Amor, Meu Amor” (1971) ou “Se Quiseres Ouvir Cantar” (1973). Se no primeiro recupera o amaliano “Meu Limão de Amargura” (de José Carlos Ary dos Santos e Alain Oulman) e lhe junta novos nomes do fado e da canção (como Carlos Alberto França ou Rita Olivaes), no segundo grava o tema-título de Tozé Brito ou poesia de Fernando Pessoa e Vasco de Lima Couto. O mesmo eclectismo permitiu-lhe gravar em 1975 o álbum “Pregão da Liberdade”, com a “Balada do Sino” e “Era de Noite e Levaram”, de José Afonso, ou as “Quadras Populares”, de José Cid. Tudo “Cantigas Que a Gente Canta” (título do álbum seguinte, em 1976, em que contava com textos do seu editor Mário Martins e com acompanhamento de António Chainho).
Em 1979, o single “Fado Reguila” juntava essa canção e “É Natal (Tem de Haver Tempo para Amar)”, dois originais de Carlos Paião, que assim chegava pela primeira vez a disco e ao conhecimento de um público maior. “Canto e Recanto” (1980) seria o seu último álbum pela Valentim de Carvalho e aí grava originais de António Avelar de Pinho, Nuno Rodrigues e José Campos e Sousa (todos da Banda do Casaco) e ainda uma versão de “Gracias a la Vida”, de Violeta Parra.
“Senhora Dona Piela”, a canção deste “Gramofone, seria publicada em single em 1981 e marca o último momento de Mourão na Valentim de Carvalho. Com autoria de César de Oliveira e João Vasconcelos, pertencia à revista “Não Há Nada p'ra Ninguém”, tal como “Zé Ninguém”, a outra canção do disco. As imagens são de uma emissão especial do programa "Sabadabadú", de Camilo de Oliveira e Ivone Silva, em que a actriz brasileira Tônia Carrero era a convidada especial.