ALICE AMARO por João Carlos Callixto
"Alice no País da Bicharada" 1962
Desta vez, o “Gramofone” traz a voz e a presença garrida de Alice Amaro, uma das vozes de destaque da década de 1960. Apesar de muito conhecida pela interpretação de diversas marchas populares de Lisboa, a carreira da cantora foi sempre bem mais diversificada, abrangendo também canções ligeiras e fados. Neste momento de hoje, a viagem é até 1962, com a canção “Alice no País da Bicharada”.
Alice Amaro tinha-se estreado em disco no final da década de 1950, com um EP de marchas em que surgia ao lado de Maria de Lourdes Resende. Todas da autoria de Guilherme Pereira da Rosa (letra) e Afonso Corrêa Leite (música), contavam com acompanhamento do trompetista Fernando Albuquerque e do seu "Fungá-gá de Luxo" e ainda com direcção de orquestra de Shegundo Galarza. Logo de seguida, é a etiqueta portuense Alvorada que com ela assina contrato, sendo aqui que a cantora grava toda a sua obra nas décadas de 1960 e 1970.
No seu primeiro disco a solo, editado em 1960, são incluídas canções de Nóbrega e Sousa e de Tavares Belo, cabendo a este último a direcção musical. Os letristas, Amadeu do Vale e Jerónimo Bragança, são também dos nomes mais requisitados de então, permitindo a Alice Amaro um início de carreira pela porta grande. Logo depois, é publicado o disco com “Olhos Azuis” (de Eduardo Damas e Manuel Paião), canção que a cantora apresentara extra-concurso no 2.º Festival da Canção Portuguesa, no Porto, a 31 de Maio desse ano.
“Alice no País da Bicharada”, a nossa canção de hoje, fecha o segundo disco a solo de Alice Amaro e tem letra de António José e música de Nóbrega e Sousa. O primeiro, foi um dos letristas mais prolíficos dos anos 60 e 70, sendo responsável por muitas das adaptações para português de canções estrangeiras que viriam a ser sucessos na voz de Marco Paulo. O segundo é um dos compositores mais respeitados desde a década de 1940 e que por três vezes venceu o Festival RTP da Canção – com “Sol de Inverno”, por Simone de Oliveira, em 1965; com “Onde Vais Rio Que Eu Canto”, por Sérgio Borges, em 1970; e com “Sobe Sobe Balão Sobe”, em 1979, por Manuela Bravo.
Se nesse segundo disco a solo de Alice Amaro o acompanhamento coube a Ferrer Trindade (que assinava aí duas das canções, com letras de Artur Ribeiro), neste momento gravado pela RTP ao vivo na Feira Popular, em 1962, quem acompanha a cantora é o Conjunto de Shegundo Galarza. Na formação, temos o próprio Shegundo Galarza (no piano), o madeirense Carlos Menezes (na guitarra), Amândio Amaral (no contrabaixo) e Fernando Mamede (na bateria). Este último é pai do também baterista Vítor Mamede, que nos anos 70 se destacaria no Quarteto 1111 e nos Green Windows, para além de ser autor da música de “Dai-Li-Dou”, com que os Gemini vencem o Festival da Canção de 1978. A carreira de Alice Amaro continuaria repleta de momentos de sucesso e com uma vasta discografia, quase toda ela em formato EP – o disco de 7 polegadas e de 45 rotações que normalmente trazia duas faixas em cada lado e que foi até meados de 70 o mais comum na indústria fonográfica portuguesa.