ALFREDO MARCENEIRO por João Carlos Callixto
12 Mai 1968 - "O Marceneiro"
A arte de cantar o fado ao longo do século XX conheceu muitos cultores e muitas cambiantes. No entanto, há nomes que pelo seu percurso, pelo seu carisma e pela forma como o seu talento se multiplica de várias formas acabam por ser referências em vida e assim continuam muito para além da sua morte. Alfredo Marceneiro é sem dúvida um dos maiores representantes de tudo isto, tendo ainda a sua longa vida de mais de 94 anos ajudado a marcar diferentes gerações e momentos da História do Fado.
Baptizado Alfredo Rodrigo Duarte apenas três anos depois do seu nascimento, acabou por adoptar como apelido artístico o nome do ofício em que se destacou profissionalmente. Em retiros, verbenas e festas de fado foi construindo também a sua reputação ao longo das primeiras décadas do séc. XX, chegando a disco já com mais de 40 anos. Numa família em que tanto o seu irmão Júlio Duarte como a sua cunhada Leonor Duarte, mulher deste, cantam o fado, é precisamente ao lado desta última que surge pelas primeiras vezes em disco, na viragem dos anos 20 para os 30. Com o selo Odeon, Marceneiro grava então com a cunhada “Desgarrada d’Amor”, com letra de Henrique Rêgo. No outro lado, Ercília Costa, António Menano e Joaquim Campos cantam uma outra desgarrada, um dos registos mais típicos dentro do fado. Em ambos os casos, o acompanhamento instrumental é executado por dois talentos maiores: os de Armandinho e de Georgino de Sousa.
Apesar de Alfredo Marceneiro não morrer de amor pelos estúdios de gravação, na realidade a sua obra gravada é bem maior do que se imagina. A partir dos anos 30, grava para os selos Odeon e Columbia mais de uma dezena de discos, onde quase sempre inclui as suas próprias estilizações do fado e que viriam a criar “escola”. Ao seu lado, para além dos citados acima, surgem outros guitarristas, como João Fernandes ou os populares “irmãos Pinóia” (Casimiro e Miguel Ramos). Chegados assim a meados dos anos 50, em que alguns dos seus registos mais antigos eram reeditados ainda em disco de 78 rotações, Alfredo Marceneiro regista em 1955 um trabalho para o selo Estoril, de Manuel Simões, com “Casa da Mariquinhas” e “Louco”. Seria um momento-charneira no seu percurso discográfico, uma vez que esses dois fados, para além da popularidade, viriam a ser reeditados várias vezes em vinil numa altura em que a própria indústria estava em mudança de suportes. No disco seguinte, “Fado na Canoa”, um EP editado em 1959, encontramos ao lado do fadista as guitarras de Liberto Conde e do galego Francisco Perez Andión (conhecido como Paquito), para além de uma desgarrada com Mariana Silva. Henrique Rego, um dos letristas mais cantados por Marceneiro, é autor de quase todos os textos, com Gabriel de Oliveira a assinar também um deles.
A nova década de 1960 começa com um novo EP, “Bairros de Lisboa”, e de novo em registo de desgarradas. Desta vez, a voz a ombrear com a do “patriarca do fado” era a da jovem Fernanda Maria, um dos valores que então despontava e que se viria a consagrar como uma das grandes fadistas do século XX. Registado para a Valentim de Carvalho, seria de alguma forma o prelúdio do trabalho mais reconhecido na obra de Alfredo Marceneiro: o LP “The Fabulous Marceneiro”, publicado em Fevereiro de 1961 e gravado pelo técnico de som Hugo Ribeiro no Teatro Taborda. A icónica fotografia de capa de Nuno Calvet mostra o fadista com 72 anos e o disco é todo um tratado, em formato longa-duração, sobre a arte de cantar o fado. “Senhora do Monte”, “Lembro-me de Ti” e “O Amor É Água Que Corre” abriam o registo, que tem sido sucessivamente reeditado até aos dias de hoje, e que traz as cordas de Francisco Carvalhinho e de Martinho d’Assunção.
No percurso discográfico de Marceneiro, sucedem-se dois EPs de desgarradas, com Fernando Farinha e com o seu filho Alfredo Duarte Júnior, chegando no Verão de 1964 o segundo álbum, "Há Festa na Mouraria". Aí se encontra “O Marceneiro” que aqui recordamos hoje (numa gravação de 1968 para a RTP) e que tinha sido anteriormente gravado em disco de 78 rotações. Desta vez, para além de Carvalhinho, estão ao lado do mestre Ilídio dos Santos e Orlando Silva. Uma pausa nas edições dita que o novo trabalho, “Alfredo Marceneiro e o Fado”, chegue apenas em 1971, e pela mão agora do selo Estúdio, de Emílio Mateus, para o qual grava também um EP em desgarrada com o neto Vítor Duarte. No entanto, seria com “Nos Tempos em Que Eu Cantava”, editado em 1972 pela Valentim de Carvalho, que se despediria das gravações de estúdio, num disco em que contou com a cumplicidade de José Nunes e de novo de Paquito. Os inúmeros fados de Alfredo Marceneiro continuam hoje em dia a ser cantados pelas novas gerações, mostrando sem qualquer dúvida que o seu legado será bem perene no âmbito da canção de Lisboa e no próprio panorama da música portuguesa – uma das provas maiores disso mesmo chegou em 2017, com o disco “Camané Canta Marceneiro”, em que um conjunto de 17 fados irmanou dois dos talentos maiores de sempre do fado e trouxe ainda uma desgarrada com Carlos do Carmo em “A Lucinda Camareira”. Silêncio, que nunca se vai deixar de cantar o fado!
Baptizado Alfredo Rodrigo Duarte apenas três anos depois do seu nascimento, acabou por adoptar como apelido artístico o nome do ofício em que se destacou profissionalmente. Em retiros, verbenas e festas de fado foi construindo também a sua reputação ao longo das primeiras décadas do séc. XX, chegando a disco já com mais de 40 anos. Numa família em que tanto o seu irmão Júlio Duarte como a sua cunhada Leonor Duarte, mulher deste, cantam o fado, é precisamente ao lado desta última que surge pelas primeiras vezes em disco, na viragem dos anos 20 para os 30. Com o selo Odeon, Marceneiro grava então com a cunhada “Desgarrada d’Amor”, com letra de Henrique Rêgo. No outro lado, Ercília Costa, António Menano e Joaquim Campos cantam uma outra desgarrada, um dos registos mais típicos dentro do fado. Em ambos os casos, o acompanhamento instrumental é executado por dois talentos maiores: os de Armandinho e de Georgino de Sousa.
Apesar de Alfredo Marceneiro não morrer de amor pelos estúdios de gravação, na realidade a sua obra gravada é bem maior do que se imagina. A partir dos anos 30, grava para os selos Odeon e Columbia mais de uma dezena de discos, onde quase sempre inclui as suas próprias estilizações do fado e que viriam a criar “escola”. Ao seu lado, para além dos citados acima, surgem outros guitarristas, como João Fernandes ou os populares “irmãos Pinóia” (Casimiro e Miguel Ramos). Chegados assim a meados dos anos 50, em que alguns dos seus registos mais antigos eram reeditados ainda em disco de 78 rotações, Alfredo Marceneiro regista em 1955 um trabalho para o selo Estoril, de Manuel Simões, com “Casa da Mariquinhas” e “Louco”. Seria um momento-charneira no seu percurso discográfico, uma vez que esses dois fados, para além da popularidade, viriam a ser reeditados várias vezes em vinil numa altura em que a própria indústria estava em mudança de suportes. No disco seguinte, “Fado na Canoa”, um EP editado em 1959, encontramos ao lado do fadista as guitarras de Liberto Conde e do galego Francisco Perez Andión (conhecido como Paquito), para além de uma desgarrada com Mariana Silva. Henrique Rego, um dos letristas mais cantados por Marceneiro, é autor de quase todos os textos, com Gabriel de Oliveira a assinar também um deles.
A nova década de 1960 começa com um novo EP, “Bairros de Lisboa”, e de novo em registo de desgarradas. Desta vez, a voz a ombrear com a do “patriarca do fado” era a da jovem Fernanda Maria, um dos valores que então despontava e que se viria a consagrar como uma das grandes fadistas do século XX. Registado para a Valentim de Carvalho, seria de alguma forma o prelúdio do trabalho mais reconhecido na obra de Alfredo Marceneiro: o LP “The Fabulous Marceneiro”, publicado em Fevereiro de 1961 e gravado pelo técnico de som Hugo Ribeiro no Teatro Taborda. A icónica fotografia de capa de Nuno Calvet mostra o fadista com 72 anos e o disco é todo um tratado, em formato longa-duração, sobre a arte de cantar o fado. “Senhora do Monte”, “Lembro-me de Ti” e “O Amor É Água Que Corre” abriam o registo, que tem sido sucessivamente reeditado até aos dias de hoje, e que traz as cordas de Francisco Carvalhinho e de Martinho d’Assunção.
No percurso discográfico de Marceneiro, sucedem-se dois EPs de desgarradas, com Fernando Farinha e com o seu filho Alfredo Duarte Júnior, chegando no Verão de 1964 o segundo álbum, "Há Festa na Mouraria". Aí se encontra “O Marceneiro” que aqui recordamos hoje (numa gravação de 1968 para a RTP) e que tinha sido anteriormente gravado em disco de 78 rotações. Desta vez, para além de Carvalhinho, estão ao lado do mestre Ilídio dos Santos e Orlando Silva. Uma pausa nas edições dita que o novo trabalho, “Alfredo Marceneiro e o Fado”, chegue apenas em 1971, e pela mão agora do selo Estúdio, de Emílio Mateus, para o qual grava também um EP em desgarrada com o neto Vítor Duarte. No entanto, seria com “Nos Tempos em Que Eu Cantava”, editado em 1972 pela Valentim de Carvalho, que se despediria das gravações de estúdio, num disco em que contou com a cumplicidade de José Nunes e de novo de Paquito. Os inúmeros fados de Alfredo Marceneiro continuam hoje em dia a ser cantados pelas novas gerações, mostrando sem qualquer dúvida que o seu legado será bem perene no âmbito da canção de Lisboa e no próprio panorama da música portuguesa – uma das provas maiores disso mesmo chegou em 2017, com o disco “Camané Canta Marceneiro”, em que um conjunto de 17 fados irmanou dois dos talentos maiores de sempre do fado e trouxe ainda uma desgarrada com Carlos do Carmo em “A Lucinda Camareira”. Silêncio, que nunca se vai deixar de cantar o fado!