Sofia bate á porta do consultório e trás um colar cervical conta que a prima se encontra em Lisboa para visitar algumas faculdades, ela cedeu-lhe o quarto indo dormir para o sofá ao acordar de manhã não conseguia mexer o pescoço foi ao médico que não lhe tirou o gesso e ainda lhe pôs um colar. Trás um presente de despedida por ser é a terceira sessão, Mário lembra, ter dito no mínimo três sessões, o presente é um barco á vela dentro de uma garrafa com água, afirma, que pode olhar para o barco, quando estiver farto de ouvir a vida insípida dos pacientes. Este refere-se a insípida, como uma boa palavra, Sofia diz que gosta de procurar sinónimos no dicionário, não se sente doida por isso. Mário percebe que o desenho do Ivo já não se encontra no gesso, ela afirma que o apagou, e pergunta, se quer saber como se sente em relação a isso, Mário, pensa que pode sentir-se assustada, porque poderá ser a ultima sessão, pergunta porque tal a assustaria, porque pensa ter uma má nota na avaliação, não será a avaliação o foco de preocupação, refere Mário, talvez a possibilidade de não voltar, o barco de presente poderá ser entendido como algo que garanta, que não se esquece dela. Sofia pergunta como funciona a terapia, Mário responde que não há tempo limite depende da evolução do paciente, Sofia pede que finjam estar em terapia. Mário pede que fale mais sobre o barco, esta diz que o comprou em Castelo Branco numas férias em família, terá gasto todo o dinheiro da semanada, quando regressou a casa o casamento dos pais tinha acabado, para ela teria acabado durante a viagem, chegou da escola e os dois na cozinha com sorriso de plástico, a mãe a chorar e a seguir o pai, refere não se lembrar deles, mas lembra-se da cozinha. O pai foi viver para o Porto com a nova mulherzinha ela ficou com a mãe que é uma deprimida. Terão sido o Ivo e a Marlene que moravam perto, que não a deixaram desistir dos treinos. Mário, diz que ela parece triste, não por os pais se terem separado, mas pela forma como o fizeram, responde não estar triste, pergunta se é isso que as pessoas fazem em terapia, queixam-se dos seus problemas, afirma não ser assim, esse é um comportamento típico da mãe, mas, não é como ela. Mário pergunta se esta nunca ponderou ir viver para o Porto, diz que sim, mas o pai e a mulher dele precisam do seu espaço, não durou muito, o pai queria que fosse viver com ele, a mulher não aceitou, zangaram-se e separaram-se, Mário refere que a sua lógica tem falhas, ela não pode ser responsável, pelas atitudes dos pais. Pergunta se já era ginasta antes de conhecer o Ivo, não se lembra da sua vida antes do Ivo, era muito pequena e terá sido ele a descobri-la como ginasta. Além do pai eles são os únicos que acreditaram nela. Conta que a casa deles era como se fosse a dela. Quando os pais discutiam, dormia em casa deles, nessa altura voltou a ter ataques, dores de estomago e tremores, começava a vomitar e não conseguia parar. Uma noite levaram-na às urgências, nunca contaram aos pais, Mário pergunta porque não, Sofia muda de assunto, explica que destruiu a família deles a Marlene, confiava nela e ela traiu-a, antes de ir para Évora, disse-lhe que não confiava no Ivo, mas confiava nela, sabia que a Bia ficaria bem entregue, ao contrario do que possa pensar o Ivo é respeitador, estava sempre a travá-la, mas ela achava que este a amava, a Marlene foi embora seis meses, durante esse tempo o Ivo nunca foi para a cama com ela, embora todos acharem que sim, ele dizia que havia um limite que não podiam ultrapassar, dormiam na mesma cama mas mais nada, olhos cheios de lágrimas, mas sem chorar, lembra que mesmo antes da Marlene voltar, acordou a meio da noite, ele estava acordado e aconteceu, não sentiu nada, como se não estivesse ali. No dia seguinte, fingiram nada ter acontecido, nos treinos terá caído e tiveram uma grande discussão á frente de todos, o Ivo gritava que faltavam dois dias para o campeonato, pedindo que se concentrasse e fizesse como deve ser.