Cinemax Curtas

Cerro Negro, de João Salaviza, no Cinemax

Episódio 32 de 0

Novembro é o mês de João Salaviza no Cinemax Curtas. Em três sessões exibimos um programa especial que complementa a estreia de "Montanha", a primeira longa-metragem do realizador (em exibição nos cinemas a partir de 19 novembro).

Esta programação dedicada ao cinema de Salaviza inclui as três curtas-metragens de ficção do realizador que formam a chamada trilogia acidental: "Rafa" (Urso de Ouro no Festival de Berlim 2012), "Cerro Negro" (prémio melhor realizador português no IndieLisboa"12) e "Arena", (Palma de Ouro no festival de Cannes 2009 e prémio melhor curta-metragem portuguesa no IndieLisboa"09).

Neste programa especial de três curtas chegou o momento de exibirmos "Cerro Negro", um filme que resulta de um encomenda do programa Próximo Futuro da Fundação Calouste Gulbenkian.

A curta-metragem está centrada num casal de emigrantes brasileiros em Lisboa: Anajara e Alisson protagonizam duas solidões que se tentam proteger mutuamente, ao mesmo tempo que lutam contra uma separação forçada.

Anajara regressa do trabalho ao amanhecer. Desta vez não vai poder dormir durante o dia, nem levar Iury à escola. A setenta quilómetros de distância, Allison espera para reencontrar a mulher e o filho. Hoje é dia de visita na prisão de Santarém.

"Cerro Negro" adota a estrutura de um díptico, revelando duas partes de uma história comum, e estabelecendo uma relação entre dois espaços (o doméstico e o da prisão).

A prisão é central nos filmes desta trilogia. Para Salaviza é a "força institucional" que está sempre em relação com o indivíduo.

Em "Arena", já exibido na sessão anterior, surge materializada na pulseira eletrónica na perna de Mauro que vive em prisão domiciliária. Em "Cerro Negro" é o espaço da cadeia e a presença dos guardas - o filme foi rodado no Estabelecimento Prisional de Santarém, entretanto encerrado. Em "Rafa" (derradeiro filme deste programa) seguimos o protagonista até uma esquadra de Lisboa onde procura a mãe que foi detida.

Apesar dos elementos comuns, Salaviza salienta que a trilogia é acidental . "Foi quando escrevi e filmei o "Rafa" que me apercebi de que havia um elemento temático que era bastante repetitivo." Além da condição de recluso, o tema mais forte em todos os filmes é o das relações familiares e da pertença. Dos três filmes, "Cerro Negro" é o que assume esse assunto de forma mais evidente.